O diretor-presidente da ABIA, Richard Parker, foi o palestrante convidado no seminário “Desafios para a prevenção do HIV em tempos de prevenção combinada”, realizado pelo Comitê Estadual de Saúde da População LGBT e Gerência de DST/AIDS, Sangue e Hemoderivados da Secretaria de Estado de Saúde (SES) no Rio de Janeiro. Na ocasião, o diretor-presidente da ABIA defendeu a prevenção como um direito.
Parker é o autor de mais de 250 publicações científicas e uma das referências sobre o HIV e AIDS no Brasil e no mundo. Um de seus livros – “AIDS, a terceira epidemia”, assinado junto com o saudoso escritor e ativista Herbert Daniel – será reeditado e distribuído no próximo 6 de dezembro durante o evento que acontecerá no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), no Rio de Janeiro.
Na palestra sobre os “Desafios para a prevenção do HIV em tempos de prevenção combinada”, Parker apresentou um breve histórico sobre a AIDS e pontuou sobre as perspectivas para a prevenção combinada a partir dos campos biomédicos, comportamental e estrutural.
“O UNAIDS e outras organizações trouxeram a ideia de prevenção combinada por acharem que estávamos indo longe demais na linguagem biomédica. A proposta era tentar retornar às questões da prevenção aliando pontos comportamentais com o biomédico, mas é preciso ter cuidado e não colocar isso numa perspectiva de ‘bala mágica’”, afirmou Parker.
Um dos desafios, segundo ele, é garantir a prevenção como um direito para a população. Além do acesso às ferramentas disponíveis, Parker acredita que é preciso combater o estigma, o preconceito e a discriminação para superar as barreiras que impactam a resposta à epidemia de HIV e AIDS, com destaque para as populações mais afetadas. O diretor-presidente da ABIA entende que é primordial devolver o controle da prevenção para as comunidades, reconhecer a sexualidade como expertise e reinventar o sexo mais seguro como instrumento de solidariedade e direito.
De acordo com ele, o foco deve ser a pedagogia da prevenção combinada a partir de duas perspectivas básicas: o retorno às raízes do sucesso e a superação do desperdício da experiência. “É preciso retomar o que deu certo no passado, ou seja, a luta política, a mobilização comunitária e o foco nos direitos humanos. Precisamos também reinventar o sexo seguro a partir das inovações disponíveis como a profilaxia pré-exposição – a PrEP – e outras abordagens biomédicas que não estigmatizem a sexualidade em pleno século XX1”, pontuou.
População trans
Após a palestra do diretor-presidente da ABIA, a advogada trans Maria Eduarda Aguiar, do Grupo Pela Vidda – RJ, falou sobre a perspectiva da prevenção combinada no universo da população trans e o ativista Júlio Moreira, do Grupo Arco Íris, abordou sobre sua participação no estudo PrEP Brasil – feito pela Fiocruz com o propósito de avaliar a aceitação, a viabilidade e a melhor forma de oferecer a PrEP à população brasileira como prevenção ao HIV.
A advogada questionou o foco exclusivo na PrEP. “ É importante trabalhar com a questão da vulnerabilização, do acesso mediante ao medicamento, a empregabilidade e a informação à população trans longe do estigma”, afirmou.
Já o ativista Julio Moreira chamou a atenção para a questão estrutural do acesso à PrEP que, segundo ele, está limitada às pessoas brancas e de classe média e alta. “A profilaxia não chega a quem precisa como os negros, as trans, os menos escolarizados, entre outros grupos mais vulneráveis. Tem que ser ampliada para outros territórios e locais fora dos grandes centros urbanos. Muitas vezes as pessoas não têm dinheiro de passagem para poder vir fazer o tratamento”, observou.
O seminário, organizado pela SES, contou ainda com uma mesa sobre “Vivências de Prevenção”.
Fonte: Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens
Edição: Angélica Basthi