A partir do tema “Movimento de ONGs AIDS em tempos de Bolsonaro”, o diretor-presidente da ABIA, Richard Parker, fez uma reflexão sobre os desafios do movimento na atual conjuntura política durante a palestra inaugural do Encontro Estadual de ONGs AIDS do Rio de Janeiro (EEONG/RJ), que aconteceu no Scorial Hotel, no Flamengo (RJ).
Após a palestra inaugural, a mesa de abertura – mediada por Vagner de Almeida, coordenador do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens – contou com a participação da Thaís, da Casa Nem; do jovem Anselmo Almeida, da ativista Ana Leila e do estudante de psicologia e membro da Rede de Jovens do Rio de Janeiro, Léo Aprígio.
Com forte criticidade, Parker analisou o cenário a partir dos seguintes eixos: 1) estigma e discriminação; 2) desafios da prevenção; 3) acesso ao tratamento e 4) assistência e SUS. Segundo ele, o estigma e a discriminação são os desafios mais graves no momento. “A violência estrutural está presente e o bolsonarismo endossa práticas que não legitimam os direitos humanos, o que coloca as pessoas mais afetadas pela epidemia e as populações mais vulneráveis expostos”, advertiu. Parker também assegurou que o estigma e a discriminação afetam outros campos estratégicos da resposta à epidemia como a prevenção.
“Não se pode falar de prevenção censurando o debate sobre gênero e sexualidade, por exemplo. Criam-se barreiras de diálogo com os jovens e outros públicos afetados”, afirmou. “Nos próximos quatro anos, veremos aumentar as infecções entre jovens HSH (homens que fazem sexo com homens), jovens gays, jovens trans… O movimento AIDS precisa fazer alguma coisa para isso não acontecer”, alertou.
Tempos sombrios
O diretor-presidente da ABIA reforçou o posicionamento da instituição ao se somar às críticas à nova estrutura do Departamento responsável pela política de AIDS anunciada recentemente. “Podem dizer que a política não mudou com a retirada do nome AIDS do departamento, mas a estrutura foi esvaziada de forma profunda. A minha previsão é que as coisas irão piorar muito para as políticas de AIDS, porque eles tem outras prioridades. Houve uma invisibilização do nome AIDS, de suas populações afetadas e, de fato, quem mais precisa pode ficar sem assistência”, afirmou. “Não há compromisso com o SUS. O fim do departamento de AIDS coloca dificuldades para a sociedade civil e deixa sob suspeita a manutenção do acesso universal aos medicamentos que temos no Brasil”, atestou.
Parker espera do movimento social de AIDS uma ação e uma resposta mais efetivas. “Em quase 40 anos de epidemia de AIDS eu nunca vi uma situação política e social tão difícil como essa. E a assistência e garantia do SUS não é prioridade para o bem estar do povo. Isso vem de algum tempo, não podemos aceitar”.
O EEONG contou ainda com a participação do vice-presidente da ABIA, Veriano Terto Jr., no segundo e último dia do encontro. A atividade foi realizada a partir de uma articulação de diferentes entidades e representantes da sociedade civil. O encontro teve o apoio da UNESCO.
Assista a palestra completa aqui
Fonte: Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens
Edição: Angélica Basthi