A recente censura às exposições que fazem alusão ao sexo e à sexualidade – Queermuseu (censurada em Porto Alegre e no Rio de Janeiro) e a Curto-Circuito do grupo Flsh Mag (RJ) – é resultado do avanço das forças conservadoras no país e tem um impacto altamente negativo no campo da prevenção do HIV e da AIDS. A onda conservadora tem se traduzido no aumento números de novos infectados, conforme divulgado em relatórios recentes.
Falar de sexo sempre foi um desafio na construção da resposta à epidemia. O tabu e o medo de verbalizar sobre temas como nudez, penetração vaginal, penetração anal, sexo entre homens, etc, esbarram em questões morais e religiosas. Este silêncio expressa-se em altos índices de atos violentos, abusos e violações de direitos, mortes e crimes de ódio.
A ABIA reforça que a censura viola o direito à prevenção e à saúde na medida que cala as possibilidades de expressão das sexualidades e do sexo. A ideia de que nudez é igual a pornografia e de que o sexo deve ser mantido como um tabu – e, portanto, sem fazer parte de campanhas educativas nas escolas – afasta as pessoas da potência criativa e transformadora da reflexão e do diálogo.
Nós, da ABIA, alertamos que a cultura da repressão em curso hoje no país traz imensos impactos negativos na resposta ao HIV e coloca o Brasil em extrema ameaça de retrocesso na resposta à AIDS. A ABIA defende a livre expressão como a única forma de ampliar o debate sobre a prevenção.
A cultura, por ser um conjunto de expressões artísticas, sociais, linguísticas e comportamentais de um povo ou população, exerce um papel fundamental na formação do cidadão. Em razão disso, não podemos permitir que a arte seja atacada, censurada e difamada.
Relembramos que a valorização dos direitos humanos, sexuais e reprodutivos caminham dentro da lógica da prevenção. Ressaltamos que argumentos pautados no pânico moral ampliam as desigualdades sobrepostas na garantia do acesso à prevenção ao HIV.
Defendemos o livre exercício da expressão artística. Queremos prevenção com liberdade de expressão, com cultura e solidariedade.
Rio de Janeiro, 10 de outubro de 2017
Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS