A Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) considera preocupante o resultado da pesquisa divulgada pelo Observatório da Prostituição – um projeto de extensão do Laboratório de Etnografia Metropolitana-LeMetro/IFCS-UFRJ – para avaliar os efeitos da Copa do Mundo em contextos de prostituição durante os 32 dias do evento esportivo. O estudo foi realizado em parceria com a ABIA.
Em mais de duas mil horas de observações etnográficas e 116 entrevistas formais nos principais pontos de prostituição no Rio de Janeiro não foi observado nenhuma intervenção do governo para prevenção do HIV e AIDS – seja via distribuição de camisinhas, seja via circulação de cartazes ou folhetos.
A ABIA não corrobora com o que tem sido uma prática comum da política governamental no âmbito da prevenção para grandes eventos e manifesta-se contrária ao posicionamento conservador que vem sendo adotado pelo Estado no que tange ao suposto aumento da prostituição e do “turismo sexual” na realização dos megaeventos.
Durante a Copa do Mundo, o foco quase exclusivo do discurso governamental na exploração sexual das crianças e adolescentes terminou por ocultar ou soterrar outras dimensões da vida social e sexual que também deveriam ter sido objeto de atenção do Estado, sobretudo, na promoção dos direitos e saúde das prostitutas no Rio de Janeiro.
Várias trabalhadoras do sexo – e particularmente as que guardam na memória as ações sistemáticas realizadas no passado pelo Ministério da Saúde em eventos de grande porte – criticaram o abandono de medidas voltadas para a promoção da saúde sexual na Copa do Mundo de 2014.
A ABIA lamenta profundamente que este retrocesso se reflita na violação dos direitos das pessoas ao acesso de informação e meios de promoção da saúde sexual, especialmente, de profissionais do sexo. E compartilha da indignação de Lana, uma prostituta que trabalha numa casa no Centro carioca, resumida a seguir:
“É um absurdo. A mídia e o governo falavam tanto da prostituição antes do evento, Estava em todo jornal! Ah, os gringos estão chegando! Ah, o turismo sexual! Ah, vai ser uma orgia e tanto! Todo aquele blá-blá-blá sobre a putaria… E nada – absolutamente nada – de preservativos. Ninguém distribuindo camisinhas. Nada! Temos que ir, nós mesmo, para os postos conseguir. OK, tudo bem, legal se você tiver tempo. E para as mulheres que não têm? E para as ignorantes que estão começando agora e nem sabem onde ficam os postos, muito menos como colocar camisinha direito? Puta também paga impostos e a gente quer fazer nossa parte, mas parece que o Ministério da Saúde esqueceu da gente” (Lana, prostituta/RJ)
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