No dia 10 de abril de 1987, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, e o médico Walter Almeida, entre outras figuras históricas, fundaram a Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA).
A primeira sede da instituição, na Rua Vicente Souza, 24, em Botafogo, também foi inaugurada no mesmo ano.
O Programa Nacional de AIDS do Ministério da Saúde foi criado em 1988, mesmo ano que a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu o 1º de dezembro como o Dia Mundial de Luta Contra a AIDS. A proposta foi adotada, por unanimidade durante a Cúpula Mundial dos Ministros da Saúde sobre a AIDS, celebrada, em Londres. E a ABIA engajou-se nesta e em outras agendas internacionais como forma de chamar a atenção para a epidemia de AIDS no Brasil e no mundo. Nesta trajetória, reuniu nomes ilustres na história do país e na trajetória da própria ABIA. Nas fotos, Herbert Daniel e algumas voluntárias (foto 1) confeccionam materiais para o ato que seria realizado no dia 1º de dezembro daquele ano. Registrou-se também outra foto histórica no período (foto 2): Herbert Daniel, o seu companheiro, Claudio Mesquita e Maria, a segunda esposa de Betinho. A atividade, também em 1988, foi a construção de um painel sobre o tema Solidariedade.
Outra atividade que marcou as ações da ABIA no 1º de dezembro de 1988 foi o ato realizado no Cristo Redentor (fotos 3), um dos símbolos turísticos da cidade do Rio de Janeiro. O ato contou com o apoio e a presença de integrantes do movimento social de HIV e AIDS, tais como a ativista e transformista Lorna Washington e da modelo Monique Evans. O objetivo era chamar a atenção da sociedade para as questões do HIV e da AIDS. Os ativistas protagonizaram um abraço coletivo no Cristo. Diversos cartazes, faixas e balões compunham o evento no alto do Corcovado.
Em 1989, um acontecimento marcou a história da ABIA: a participação no II Encontro da Rede Brasileira de Solidariedade, em Porto Alegre, em outubro daquele ano. O evento contou com 41 entidades não-governamentais (que trabalhavam com hemofílicos, profissionais da saúde, prostitutas, soropositivos, entre outros). Uma passeata pelas ruas da capital gaúcha (foto 1) foi organizada como símbolo desse momento histórico de articulação, reivindicações e de movimento político. Na ocasião, foram produzidos diversos cartazes, faixas e outros adereços.
No intuito de apoiar a formação de um movimento social de AIDS no Brasil, a ABIA foi uma das instituições responsáveis por estabelecer uma Rede Brasileira de Solidariedade à AIDS, nos anos de 1989 e 1990, composta pelas mais de 50 ONG’s de AIDS existentes naquele período. A instituição também atuou como desenvolvedora da plataforma política do movimento e apoiadora financeira para as duas conferências de AIDS naquele ano. Em 1989, durante o Encontro Nacional da Rede Brasileira de Solidariedade, a ABIA e outras organizações que faziam parte da movimento votaram por unanimidade pela aprovação de dois documentos de grande importância – Os Princípios da Rede Brasileira de Solidariedade e a Declaração dos Direitos Fundamentais das Pessoas Vivendo com o Vírus da AIDS (veja imagem).
A foto capta um dos momentos da gravação do documentário “Amor, Vida, Viva!”, produzido pela ABIA, em 1990. Protagonizado e focado nos jovens e adolescentes, o documentário oferece informações básicas sobre AIDS. Traz depoimentos de adolescentes infectados por meio de transfusão de sangue, compartilhamento de seringas no uso de drogas e relações sexuais. O filme contou com a participação de estrelas globais da época, dentre elas, Paulo Betti, Cristiana Oliveira, Débora Bloch, Paulo Ricardo, Paulo Gorgulho e Miguel Falabella. Traz ainda um depoimento do escritor Herbert Daniel sobre Solidariedade e Vida.
O ano de 1990 foi marcado por várias ações que merecem destaque. Além do lançamento dos filmes “Amor, Vida. Viva!” e “Se você me Ama” (este último, com Miguel Falabella e Marisa Orth no elenco), a instituição participou de um protesto contra a restrição à entrada de pessoas que viviam com HIV nos Estados Unidos – que vigorava naquele país desde 1987 . O ato foi realizado em frente ao Consulado Americano, no Rio de Janeiro.
Militantes da causa HIV e AIDS no Brasil exibiram faixas contra o governo americano e em boicote à 6ª Conferência de AIDS, que aconteceu em São Francisco (EUA) naquele ano. A restrição norte-americana só chegaria ao fim em 2009, graças a uma decisão do presidente Barack Obama, após um processo iniciado por seu antecessor, George Bush Filho.
Outra ação importante naquele ano foi o lançamento do Projeto “Empresas: A Solidariedade é uma Grande Empresa” (cartaz). A proposta era de sensibilizar empresas estatais e privadas localizadas no Rio de Janeiro para a causa. A ideia foi considerada pioneira na época, já que o foco era mobilizar a consciência por meio de debates sobre o HIV e a AIDS no local de trabalho através de treinamentos, produção e disseminação de materiais de prevenção, dentre outras ações. Betinho e Hebert Daniel, por exemplo, ajudaram a sensibilizar empresas como a Companhia Vale do Rio Doce, o Banco do Estado do Rio de Janeiro e Thomas de la rue. O projeto tornou-se referência no campo de AIDS em local de trabalho por diversos anos.
O ano de 1991 foi caracterizado por intensas mobilizações, encontros e atividades. Foi lançado o Dossiê Vacinas, resultado de uma parceria da ABIA com o Grupo Pela Vidda/RJ. Neste ano, foi fundada a Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (ABONG) e o Betinho foi convodado para ser o presidente de honra. Desde então a ABIA é filiada à ABONG.
Outra atividade de destaque foi o 1º Seminário Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/AIDS (foto 1), organizado pelo GrupoPela Vidda/RJ e pela ABIA. O encontro contou com a participação do diretor global da OMS, do representante do Programa Regional de AIDS da OPS e do representante do Programa Estadual de AIDS do Estado do Rio de Janeiro. Na ocasião, representaram a ABIA, Betinho e Richard Parker. “Naquele dia, Betinho fez um dos discursos mais inspirados que eu já ouvi ao longo dos anos. Sem dúvida, foi um dos momentos mais impressionantes que eu já presenciei nestes 40 anos de vivência com a epidemia”, revela Parker, hoje atual diretor-presidente da ABIA.
Outra imagem que marcou o ano de 1991 foi a inauguração do Disque-AIDS Pela Vidda, que aconteceu na então sede da ABIA, no Jardim Botânico. A ação contou com a participação da cantora Fafá de Belém (foto 2). O objetivo era o desenvolvimento de estratégias para reduzir a expansão da epidemia, a partir da oferte de um serviço de informação e orientação. O Disque-AIDS Pela Vidda foi o segundo serviço, deste tipo, implantado no Estado do Rio de Janeiro e o primeiro dirigido para a população em geral.