A maneira pela qual o sociólogo Herbert de Souza (Betinho, fundador da ABIA) articulou suas ideias e mobilizou a solidariedade como uma ação política, sobretudo, no campo da AIDS, continua um modelo a ser seguido. Esta foi a principal mensagem da roda de conversa “O Legado de Betinho para a AIDS 20 anos depois”, organizado pela ABIA, no dia em que Betinho completou 20 anos de morte.
O evento fez parte da agenda do Dia Nacional de Mobilização em Defesa da Política Brasileira de AIDS – Contra o desmonte do SUS e em favor da Saúde Pública de qualidade, que invadiu as ruas de várias cidades brasileiras.Betinho foi lembrado como exemplo para o enfrentamento da atual crise política que afeta a resposta à epidemia. O sociólogo foi o primeiro soropositivo a comandar uma Organização no campo do HIV/AIDS (a ABIA) no Brasil.
Richard Parker, diretor-presidente da ABIA, comentou sobre as diversas lutas políticas de Betinho, tais como o movimento da ética na política, que culminou como o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. Parker também lembrou que Betinho foi uma das primeiras pessoas no mundo a perceber a epidemia de AIDS como parte de uma violência estrutural. “Isso permitiu o entendimento da AIDS como uma questão de direitos humanos e a construção de uma resposta à epidemia baseada na solidariedade”, lembrou.
Ao enxergar a epidemia como um fenômeno social e político, Betinho foi pioneiro e ajudou a estruturar a luta no surgimento da AIDS. “Ele mostrou que a AIDS é uma questão política e que a epidemia é uma crise social”, disse Veriano Terto Jr., vice-presidente da instituição.
Apesar do clima saudosista, o evento foi marcado pelo sentimento de indignação e luta. Diante da atual crise de desabastecimento de antirretrovirais em várias cidades brasileiras e do desmonte nas políticas de saúde pública, os participantes apresentaram suas dúvidas e sugestões para o enfrentamento à AIDS. Sônia Correia, co-coordenadora do Observatório de Sexualidade e Política, por exemplo, indagou sobre o que Betinho faria diante do desmantelamento do Sistema Único de Saúde (SUS). Para Richard Parker, as lições estão sendo esquecidas. “Não pode haver um desperdício de experiências”, concluiu.
Assista a roda de conversa completa neste link https://www.facebook.com/ABIAIDS/videos/556333854490322/
Por Naíse Domingues, estagiária sob a supervisão de Angélica Basthi.