O ano de 1993 foi marcado por projetos que fizeram a história no enfrentamento à epidemia de AIDS no país. Além do “AIDS e Escola, nem indiferença, nem discriminação”, a ABIA iniciou o “Projeto HSH – Projeto Homossexualidades” que desenvolveu diversas atividades, entre elas, as “Oficinas Teatro Expressionista, Sexualidade e AIDS para Homens que fazem Sexo com Homens”, que geraram a peça “Cabaret Prevenção”. O projeto tinha como principal objetivo trazer ao público uma série de demandas do coletivo HSH. As Oficinas abordavam questionamentos para que cada participante pudesse expor suas necessidades e encontrar respostas para dúvidas.
Já no seu primeiro ano, as reuniões semanais tinham grande presença do público LGBT, sobretudo entre homens mais jovens e de classes social mais baixa. Ainda em 1993, na Faculdade Cândido Mendes, em Ipanema, foi realizado o III Encontro Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS (foto), que contou com a participação da ABIA. O evento lotou a sala, com a presença de aproximadamente 300 pessoas. O objetivo era ampliação da discussão política e da inserção das ONGs/AIDS no cenário político mais amplo, especialmente com as mesas-redondas: “Limites e Possibilidades na Cooperação OGs/ONGs” e “A Polêmica sobre as Patentes”. No último dia, foi lançado o livro “A AIDS no Mundo”, co-editado pela ABIA e outras instituições. A publicação foi considerada essencial para aqueles que desejavam conhecer melhor a situação global sobre a pandemia da AIDS.
Mil novecentos e noventa e cinco foi um ano igualmente marcante. Além do lançamento do Projeto Barraca da Saúde, em parceria com o Grupo AfroReggae, a ABIA passou a integrar o Programme Coordinating Board (PCB), do Novo Programa Global de AIDS – que mais tarde viria s transformar no atual Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/AIDS (UNAIDS). É também neste ano que foi montada a peça “Cabaret Prevenção” (fotos), produzida por Vagner de Almeida. O elogiado trabalho foi uma das últimas montagens teatrais encenadas no palco do maior teatro de reduto gay dos anos 1970 e 1980, o Teatro Alaska, na Zona Sul carioca, adquirido mais tarde pela Igreja Universal.
O ano de 1996 pode ser considerado um ano de vitórias para a ABIA e para o movimento AIDS no país. Foi em 1996 que aconteceu a aprovação da lei 9313, que garante que as pessoas que vivem com o HIV e AIDS recebam gratuitamente os antirretrovirais pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Foi também neste ano a publicação do livro “Quebrando o Silêncio: Mulheres e AIDS no Brasil”, organizado pela ABIA. Outra iniciativa importante foi o “Programa de Prevenção para a Comunidade Afro-Brasileira”, conhecido como Projeto Arayê (foto). Foi a primeira ação que discutiu o HIV/AIDS na população afro-brasileira e seus impactos para esta parcela da sociedade. Com o intuito de incentivar o acesso à saúde da população negra do Brasil, o projeto desenvolveu ações para disseminar informações sobre o HIV e a AIDS para a população negra por meio de linguagem e símbolos diretamente ligados à comunidade afro-brasileira. Na foto, algumas das lideranças do movimento de mulheres negras na época tais como Neuza das Dores Pereira, Joselina da Silva, Benedita da Silva e Jurema Werneck.
O ano de 1997 foi marcado pela morte do Betinho, fundador da ABIA. Foi também o ano que a instituição recebeu a Ordem de Honra ao Mérito Pedro Ernesto, da Câmara de Vereadores do Município do Rio de Janeiro. A ABIA lançou o livro “Políticas, Instituições e AIDS” e a cartilha “Nutrição Superpositiva”. E deu continuidade ao projeto “AIDS: Políticas de Saúde e democratização da Informação” (foto 1), iniciado um ano antes e cujo foco era a capacitação e treinamento para lideranças de outras ONGs que tratam do HIV e AIDS no Brasil. O projeto promoveu diversas ações para discutir diagnósticos da AIDS e a epidemia, além de atividades entre profissionais, ativistas e pesquisadores. Outra ação que merece destaque em 1997 foi o lançamento do livro “Cabaret Prevenção” (foto 2), organizado por Vagner de Almeida, e inspirado na bem sucedida produção teatral, transformada em documentário.
O ano de 1998 foi um período chave para a ABIA. Herbert Daniel passou a integrar oficialmente a equipe. Além disso, foi lançado o primeiro Boletim ABIA. A instituição também coordenou a campanha “Sangue não é mercadoria”, contra a comercialização do sangue no Brasil. Também neste ano foi lançada a publicação “Entre homens: Homossexuais e AIDS no Brasil” (foto). Organizada por Richard Parker e Veriano Terto Jr., a publicação é uma coletânea de textos que discute os projetos de pesquisas e prevenção para homens que fazem sexo com outros homens em diversas regiões do Brasil.
O ano 2000 foi bastante estratégico do ponto de vista das ações institucionais. A ABIA iniciou o bem-sucedido projeto “Aprimorando o debate” e realizou diversos seminários com este tema em diferentes capitais do país. Foi quando também iniciou o Centro de Documentação (CEDOC), com o apoio do Ministério da Saúde. Além disso, realizou o Seminário “Violência estrutural, desigualdade social e vulnerabilidade frente ao HIV/AIDS na América Latina” (foto 1) com o objetivo de estimular parcerias entre pesquisadores sociais e ativistas da América Latina, visando reconceituar o HIV/AIDS menos como uma questão de risco individual, do que de vulnerabilidade social. Este encontro originou um Boletim ABIA sobre o tema da violência estrutural. Em julho, a instituição fez parte do comitê organizador da XIII International AIDS Conference, que aconteceu em Durban, na África do Sul, e participou da histórica marcha de abertura (foto 2), o primeiro protesto em massa por acesso a medicamentos de AIDS.