A ABIA organizou um satélite no pré-congresso do 22º Congresso Mundial de Doenças Sexualmente Transmissíveis e HIV, no Rio de Janeiro. Veriano Terto Jr., vice-presidente da ABIA, coordenou o simpósio “Experiências Comunitárias na Prevenção às DSTs/ AIDS no Rio de Janeiro: a perspectiva da sociedade civil organizada”. A mesa foi composta por Vagner de Almeida, coordenador Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direito entre Jovens, Kátia Edmundo do CEDAPS, Maria Eduarda, do grupo Pela Vidda Rio e Roberto Pereira do Centro de Educação Sexual (CEDUS). Durante o simpósio, cada ONG abordou as experiências desenvolvidas no campo da prevenção do HIV e da AIDS. Vagner de Almeida, por exemplo, tratou sobre prevenção entre a população gay jovem.
O simpósio marcou a presença e participação da sociedade civil no congresso científico. Para Veriano Terto Jr., o fato do simpósio ter acontecido num congresso predominantemente biomédico reforça que o evento foi uma oportunidade de mostrar o ponto de vista da sociedade civil e das comunidades para prevenção das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e AIDS. “ A oficina também permitiu que outros ativistas presentes participassem de forma mais ativa nos dias seguintes ao seminário. Ainda é pouco, mas foi um passo importante para buscar a intersetorialidade e interdisciplinaridade dentro dos congressos científicos”, avaliou Terto Jr.
A Agência de Notícias da AIDS registrou o encontro. Confira a seguir:
Congresso de DST e HIV: Prevenção e sexualidade das pessoas com deficiências é tema de simpósio no pré-evento
De um lado pessoas com deficiências excluídas das práticas de prevenção e com acentuadas dificuldades em relação ao cuidado e atenção frente ao HIV/AIDS. De outro, pessoas com HIV/aids com inúmeras questões não respondidas relacionadas as deficiências. A observação faz parte do projeto Caminhos da Inclusão, um trabalho feito pelo Cedaps (Centro de Promoção da Saúde) apresentado neste domingo (10), durante o pré- congresso do 22º Congresso Mundial de Doenças Sexualmente Transmissíveis e HIV, 11º Congresso da Sociedade Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis e 7º Congresso Brasileiro de Aids, neste domingo (10), no Rio de Janeiro.
“Quanto somos? Como podemos nos prevenir? Como podemos viver mais e melhor?”, com esses e outros questionamentos a psicóloga Kátia Edmundo, do Cedaps mostrou as barreiras enfrentadas pelos grupos com deficiências em relação a própria sexualidade e prevenção. Segundo ela, essas informações precisam ser estudadas para que estratégias e políticas efetivas que auxiliem e dê autonomia a esses grupos sejam desenvolvidas.
De acordo com a psicóloga, existem muitos mitos relacionados às pessoas com deficiências. “O estigma mostra-se ainda mais acentuado quando se observa na prática um conjunto de situações e cenários em que os direitos sexuais são violados e negados a pessoas com deficiências, pelo simples fato destas pessoas apresentarem limitações funcionais, sensoriais, ou intelectuais. Elas são consideradas sujeitos desprotegidos e sem direito ao próprio corpo, desejos e autonomia nas escolhas e decisões sobre as relações”, disse.
Pessoas com deficiência não se sentem representadas em campanhas
“Uma embalagem de camisinha, por exemplo, não tem braile informando nem a data de validade. Como discutir a autonomia de uma pessoa cega com esse cenário? Mulheres cadeirantes têm dificuldades para realizarem exames ginecológicos. Os serviços não estão preparados”, afirmou Kátia.
A experiência da ONG somada ao projeto Caminhos da Inclusão, de acordo com a psicóloga, mostrou que pessoas com deficiências não se sentem representadas nas campanhas realizadas por órgãos governamentais e não governamentais, voltadas a populações chave, prioritárias ou a população em geral.
“A visibilidade é um elemento chave para a autopercepção sobre a vulnerabilidade e a consequente adesão a práticas de prevenção. Acessibilidade é um tema chave para conteúdos mais gerais sobre prevenção. Ela deve ser ampliada para populações sem deficiências aparente e ainda mais intensificados para grupos de cegos, surdos, com deficiência intelectual ou que carecem de diversidade na linguagem.”
Existe também a superproteção da família e o fato de muitas pessoas com deficiência sequer saber o que é uma IST (infecção sexualmente transmissivel). Kátia explicou que no caso dos surdos a linguagem é muito diferente e os materiais usados não são adaptados.
De acordo com Rhayane Veiga, assistente de projetos do Cedaps, alguns aspectos merecem estudos, pesquisas e desenvolvimento de tecnologias. A prevenção combinada deve incluir as demandas e necessidades de pessoas com deficiências para que seja inclusiva.
“Pessoas com deficiências, jovens ou não, com ou sem HIV/aids, com ou sem deficiências, precisam falar sobre direitos sexuais, sexo seguro, afetos, namoros, liberdade, respeito e autonomia. São temas que precisam ser debatidos em diferentes espaços e cenários. Seja em escolas, unidades de saúde, setores sociais, ambientes de trabalho, universidades e centros de pesquisa”, explica Rhayane à Agência Aids.
Nos encontros realizados pelo Cedaps, conforme contou Kátia, os grupos de pessoas com deficiência adquirida são grandes: “Nós não temos dados oficiais se essas deficiências estão relacionadas ao vírus, mas muitas pessoas participam dos encontros. Para nós, isso quer dizer que tem relação. Então, sabemos que é necessário um estudo”.
O projeto Caminhos da Prevenção conta com alguns direcionamentos dentro dessa temática relacionados À comunicação, materiais educativos, prevenção, educação, políticas publicas, direitos, prevenção e serviços. Clique aqui para visitar o site.
Outros trabalhos
Durante o simpósio, Vagner de Almeida, coordenador de projetos da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA) apresentou a experiência da instituição com o projeto Previna-se: “O trabalho foca em HSH e respeitamos a individualidade dessas pessoas. A construção é horizontal e o saber compartilhado. Os jovens nos ensinam muito e mostram pra gente que a internet é um espaço social grande na vida deles. Por meio das atividades do Previna-se, estamos escrevendo um guia de sexo seguro com as falas e olhar deles.”
Além das oficinas e rodas de conversas, Vagner explicou que os jovens que passam pela ABIA aprendem a ter vozes para falar em seminários, fazer reivindicações em congressos, câmaras e outros serviços. “A gente incentiva que eles sejam os protagonistas de suas lutas e histórias”, disse.
Do Grupo Pela Vidda Rio, Maria Eduarda, contou um pouco do trabalho realizado junto à população de travestis e transexuais. Segundo ela, as dificuldades desse grupo estão além das ISTs. “Existe a baixa-estima e os obstáculos de busca a saúde como um todo. O respeito ao nome social e gênero não é cumprido nos serviços de saúde. Até nesses espaços é preciso enfrentar o preconceito”.
Com relação ao acesso a testagem e a prevenção, Maria explica que essa população –e principalmente as profissionais do sexo–, não procuram essas alternativas, pois temem o estigma do HIV. “Elas não querem estar nem nos espaços que falam sobre isso. O medo de serem associadas a infecção é grande. Os números epidemiológicos já dizem que essa população é mais vulnerável. Nosso desafio é trazer ela para a testagem sem que se sinta invadida.”
Fonte: Agência de Notícias da AIDS