Identificar o problema da perda da eficiência da resposta brasileira na prevenção e propor a participação das comunidades afetadas nesta construção foram as bases da apresentação do diretor-presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA), Richard Parker, no 11º Congresso de HIV/Aids e 4º Congresso de Hepatites Virais, em Curitiba. A apresentação foi parte da mesa redonda “Epidemia de HIV no Brasil: desafios e perspectivas”.
A Prevenção Combinada diz respeito ao leque de opções disponíveis para a prevenção ao HIV, entre elas o Tratamento como prevenção (TcP), a Profilaxia Pós-exposição (PEP) e a Profilaxia Pré-exposição (PrEP). Antes, a principal opção disponível era o preservativo.
Para a construção de uma pedagogia, Parker apresentou uma analise histórica do conceito do “sexo seguro”, que desde a década de 1980 se restringiu ao uso de camisinha, além do excesso da biomedicalização do tema.
“A prevenção perdeu o eixo quando os especialistas em saúde pública a tomaram para si o lugar de autoridade. As pessoas sempre souberam como se prevenir. Foram os gays, por exemplo, que inventaram o sexo seguro. De repente, as pessoas passaram a ser tratadas como um depósito de normas. É hora de fazer uma autocrítica e voltar a ouvir as comunidades”, afirmou Parker.
Além da valorização do conhecimento produzido pelas comunidades, Parker apontou que uma estratégia eficiente precisa envolver todas as tecnologias de prevenção disponíveis. Junto a isso, o país precisa revisitar as raízes da sua política de prevenção. “Temos que retornar para o caminho que fez do Brasil uma referência mundial na prevenção do HIV/AIDS, ou seja, a luta politica, a mobilização comunitária e a defesa dos direitos humanos”. Ao contrário do tratamento, a prevenção nunca esteve no contexto dos direitos humanos e isto tem se constituído como uma barreira.
Para Parker o Brasil parou em uma espécie política se prevenção “inacabada”, que precisa avançar com a participação da população e sua diversidade.
“Precisamos trabalhar uma educação mais enraizada politicamente para enfrentar as exclusões que causam a vulnerabilidade ao HIV. Há muitas outras formas de combater a transmissão do vírus e cada grupo pode escolher a sua. A camisinha não é única forma de prevenção”, concluiu.
Por Yusseff Abrahim (GTPI\ABIA)
Edição: Angelica Basthi