A ABIA contribuiu na primeira etapa da formação em prevenção combinada para a atualização de gerentes municipais de IST/AIDS e Hepatites Virais e da Atenção Primária e profissionais de referência dos Centros de Testagem Aconselhamento (CTA), Serviços de Atenção Especializada (SAE) e de Consultórios na Rua, organizado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-RJ). Direcionado para os municípios da Baixada Fluminense, Niterói e São Gonçalo, o encontro foi coordenado pela Gerência de IST/AIDS/HIV e baseado nos princípios da Educação Permanente. De acordo com a organização, o propósito foi alinhar conceitos e definições vinculadas às políticas de enfrentamento ao HIV, hepatites virais e outras IST. A segunda etapa está prevista para acontecer em setembro.
O diretor-presidente da ABIA, Richard Parker, e os coordenadores Vagner de Almeida e Juan Carlos Raxach ministraram palestras sobre a pedagogia da prevenção e o guia do sexo mais seguro na primeira etapa da formação. Parker, por exemplo, explicou que o conceito da pedagogia da prevenção é uma ferramenta fundamental para a reinvenção da prevenção do HIV no século XXI. De acordo com ele, é preciso retomar a voz da comunidade na prevenção e no sexo seguro. “Esse conceito de sexo seguro nasceu dentro da comunidade, não foi um processo biomédico. Foram as comunidades mais afetadas no início da epidemia, como por exemplo, os homossexuais, que iniciaram essa prática”, explicou.
Enfático, o diretor-presidente da ABIA afirmou que a prevenção começou a perder o eixo quando as pessoas das comunidades afetadas deixaram de ser ouvidas e a questão passou a ser centralizada na comunidade científica e na retórica da biomedicalização. “A partir dos anos 2000 nasceu um conceito chamado de prevenção combinada criado por pessoas preocupadas com a biomedicalização. Queriam disponibilizar diversas opções de prevenção para cercar o vírus e enfrentar as barreiras estruturais, comportamentais, de raça, gênero e outros aspectos”, contou. No entanto, permanece a insistência dos tecnocratas de plantão em defesa das apostas biomédicas. “É preciso pensar qual será o caminho para avançarmos na pedagogia de prevenção combinada que queremos”, salientou.
Já Juan Carlos Raxach complementou a exposição de Parker ao apresentar o “Rio das Prevenções” ao propor “que cada um atenda sua melhor forma de se prevenir, com ênfase na autonomia individual”. Segundo Raxach, a prescrição, o autoritarismo e a norma biomedicalizante desconsideram a perspectiva dos direitos humanos e não podem ser nomeadas como prevenção combinada.
“A dinâmica do Rio da Vida simboliza o percurso da vida de alguém. É preciso conhecer os fatos da vida de uma pessoa, o seu histórico e os acontecimentos significativos da sua trajetória para respeitarmos as decisões tomadas por ela. Como, por exemplo, não querer usar camisinha”, pontuou. Ainda por meio do Rio das Prevenções, Raxach demonstrou como o acesso aos direitos e a consciência da vida sexual são essenciais para o uso da caixa de ferramentas disponível na prevenção combinada. ” Esta caixa de ferramentas é composta por fatores médicos (PEP, PrEP, Tratamento como prevenção etc), comportamental/barreiras físicas (educação, redução de danos, etc) e estruturais (acesso universal ao medicamento, acesso universal a camisinha, promoção e garantia dos direitos humanos, etc)”, informou.
Sobre a publicação “Sexo Mais Seguro: Um Guia sobre Sexo, Prazer e Saúde no Século 21”, Vagner de Almeida explicou em detalhes como foi o processo de criação e produção.
Dividido em módulo 1 e 2, o guia está disponível na versão online e é gratuito para download. O módulo 1, por exemplo, ganhou o foco na questão do HIV e da AIDS e foi subdividido quatro modelos: 1. homens que fazem sexo com outros homens, 2. mulheres heterossexuais/cisgêneros, 3. travestis e transexuais e 4. homens trans. A informação surpreendeu os participantes.
“Todos esses materiais foram compostos, produzidos e criados com a ajuda das populações com as quais direcionamos o foco. O voluntarismo, desde os grupos focais até as fotos produzidas e publicadas no folder, foi fundamental para o sucesso que temos alcançado com os materiais até aqui”, disse Almeida. Segundo ele, a ousadia exibida nas fotos que estão no guia foi destacada como positiva por uns e causou incômodo em outros. “Não se pode fazer um guia de sexo mais seguro sem falar de sexualidade. Reações do tipo são naturais e não deixam de ser importantes para nós”, resumiu o coordenador da ABIA.
Fonte: Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens