A noite de abertura do 4º Seminário de Capacitação em HIV – Aprimorando o Debate III trouxe as boas práticas de São Paulo no campo da assistência e linhas do cuidado, tema desta 4ª edição. A palestra magna contou com as contribuições de Veriano Terto Jr., vice-presidente da ABIA, e Maria Clara Gianna e Rosa Alencar, respectivamente, diretora e diretora-adjunta do Centro de Referência de Treinamento (CRT DST/AIDS-SP), vinculado à Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.
Pouco antes, foi exibido o filme “Fogo nas Veias” (Fire in the Blood) que impactou a plateia na pré-abertura do seminário. O documentário registra a notável reação de pessoas ao redor do mundo contra as empresas farmacêuticas ocidentais e governos, que em 1996, bloquearam o acesso a medicamentos de baixo custo para a AIDS em toda a África e no Sul Global e por consequência ocorreram cerca de 10 milhões de mortes. Em seguida, o debate trouxe boas reflexões sobre o comando de Pedro Villardi, que representa a ABIA na coordenação do Grupo de Trabalho sobre Propriedade Intelectual (GTPI).
Nas boas-vindas aos participantes, Terto Jr. lembrou da complexidade do campo da assistência e linhas de cuidado, que envolve desde questões individuais (como nível de adoecimento e de informação) até questões na dimensão cultural (como por exemplo, gênero, raça e estigma) e estrutural (acesso a medicamentos, preço, entre outros).
“Queremos apontar caminhos e reforçar a solidariedade. Falar de assistência e cuidado é falar em defesa da vida. Estamos num momento difícil e em especial no Rio de Janeiro onde o governador aplaudiu esta semana a barbárie ao vivo na televisão. Só em julho foram 194 mortes no estado no enfrentamento policial. Isso é um desvalor à vida”, salientou Terto Jr.
Já Maria Clara Gianna apresentou a experiência de São Paulo desde o início da epidemia. Segundo ela, a estratégia envolve uma gestão próxima das pessoas que vivem com HIV e AIDS. “A participação da sociedade civil presente nos fóruns fortalece a possibilidade de construirmos juntos a questão do cuidado”, frisou.
Descentralização
Outro diferencial que impacta positivamente a assistência e a linha do cuidado no estado de São Paulo é a descentralização desde 1988. “Os hospitais têm capacidade para atender as pessoas com HIV/AIDS e também os grandes municípios do interior e da grande São Paulo”, informou. Gianna também destacou os recursos enviados pelo Banco Mundial e também do Ministério da Saúde que beneficiaram a resposta brasileira organizada nos anos 1990. Já durante os anos 2000, a estratégia no estado envolveu a qualificação do cuidado das pessoas que vivem com HIV e o trabalho com as redes de cuidado.
“Percebemos, por exemplo, que o remédio é fundamental, mas não é o suficiente. E entendemos que não é só diagnosticar e tratar. É preciso ter ações de promoção do tratamento, qualidade de vida, tratamento igualitário, monitoramento clínico e ver os faltosos. Há hoje um enorme abandono no tratamento antirretroviral ”, afirmou.
A diretora-adjunta do CRT DST/AIDS-SP, Rosa Alencar, complementou a palestra de Gianna ao trazer alguns dos resultados da resposta do estado de São Paulo à epidemia. Em 2016 e 2017, pela primeira vez, houve queda de novos casos de infecção em HIV e redução de mais de 40% no número de mortalidade por AIDS no estado.
Alencar também destacou a importância do fortalecimento dos serviços especializados para a ampliação do acesso das pessoas que vivem com HIV e AIDS e dos recém diagnosticados. Entre os desafios, está o enfrentamento do estigma e discriminação na atenção básica e a garantia do sigilo e da confidenciabilidade, além do monitoramento dos planos regionais, ampliação das atividades para outras regiões de saúde e também da participação da sociedade civil.
No debate com participantes presenciais e virtuais, Gianna sugeriu o fortalecimento do serviço de referência no Rio Grande do Sul. “Nem tudo é só a atenção básica. Há cuidados específicicos com determinados pacientes, como por exemplo, os idosos, que não é possível fazer na atenção básica”, explicou.
O Rio Grande do Sul é um dos piores estados brasileiros no que diz respeito à doença. Segundo o Boletim Epidemiológico HIV/AIDS da Secretaria de Estado de Saúde (RS), embora tenha registrado uma queda de 9,4% na taxa de detecção de casos de AIDS, o estado ocupa o 2º lugar no ranking com 31,8 casos a cada 100 mil habitantes. E ainda exibe a maior taxa de mortalidade por AIDS do país (9,6 casos de óbitos para cada 100 mil habitantes) e lidera o ranking entre as capitais, com 22, 4 óbitos para cada 100 mil habitantes em Porto Alegre.
O 4º Seminário de Capacitação em HIV – Aprimorando o Debate III é uma ação da área de Treinamento e Capacitação da ABIA. O evento acontece de 21 a 23/08 em Porto Alegre.
Por Angelica Basthi