Como a sexualidade, a família e a saúde mental colaboram para a solidão nos dias atuais? Este foi um dos temas da roda de conversa “Solidão no Universo LGBT”, promovida pelo Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direito entre Jovens da ABIA. A atividade aconteceu no salão Betinho, na sede da instituição e contou com a participação da psicóloga convidada e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Anna Paula Uziel. O foco foi compreender como estes dilemas afetam a vida das pessoas LGBTs no país com o maior índice de assassinatos desta população no mundo.
O encontro foi mediado pelo coordenador do projeto, Vagner de Almeida, e reuniu pessoas de diversas orientações sexuais e gerações. A diversidade possibilitou um rico debate com muita troca de experiências e perspectivas diversas. O médico participante André Feijó, por exemplo, lamentou a segmentação nos movimentos sociais. Militante político durante a ditadura militar brasileira, Feijó compartilhou suas experiências no período e levantou discussão sobre as similaridades e diferenças nos movimentos sociais e no contexto sócio-político atual do Brasil.
O grupo trocou percepções sobre o recente avanço de políticos conservadores e associou o fenômeno a uma resposta em face das aberturas democráticas conquistadas pelas minorias (gays, negros e mulheres). Os participantes relataram como se sentiam em meio ao clima de instabilidade política no país. “Acho que é preciso entender os caminhos que nos trouxeram até aqui para então encontrarmos respostas. Não estamos vivendo uma solidão política, mas sim uma solidão humana. O que eu mais vejo são pessoas jovens querendo se matar, mas se fomos observar isso não vem de agora, esse é o momento em que as pessoas chegaram já no seu limite e querem despejar tudo para fora ”, observou a participante e também psicóloga Penélope Esteves.
Outra questão que surgiu no debate foi o uso das novas tecnologias de comunicação e da internet. Na visão dos participantes, as redes sociais têm colaborado para o isolamento social e a consequente apatia e esvaziamento das mobilizações políticas Para Uziel, só o enfrentamento coletivo poderá trazer mudanças positivas para o conjunto da sociedade, em especial, para as minorias: “Precisamos construir alianças, que abarquem as diversas identidades que temos hoje nos movimentos e na sociedade, e a partir delas nos desdobrar para criar pontes, diálogos e pautas que nos fortaleçam. Nós temos que aprender a usar toda essa tecnologia que está aí para isso por que ela veio para ficar”, salientou a psicóloga convidada.
Racismo, angústia, LGBTfobia, estigma, prevenção, rotinas medicamentosas e adesão ao tratamento dos portadores de HIV/AIDS também foram abordados no debate. “Nossos pensamentos se tornaram muitos rasos, sem profundidade, também pela própria forma com que vivemos nossa vida. Historicamente, não conhecemos o nosso passado. As pessoas se preocupam com o hoje ou o amanhã, mas não se importam com o que aconteceu para chegarmos até aqui”, lamentou Almeida.
A roda de conversa “Solidão no Universo LGBT” foi mais uma ação positiva do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens em 2018, com apoio da MAC AIDS Fund.
Reportagem: Maria Lucia Meira, sob a supervisão da jornalista Angélica Basthi
Edição: Angélica Basthi