A Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA), que coordena o portal Global AIDS Policy Watch e atua em parceira com várias instituições internacionais na resposta à epidemia do HIV/AIDS, declara ser categoricamente contrária à saída do Brasil da Organização Mundial de Saúde (OMS). A simples ameaça feita pelo governo federal – alinhada à ação anunciada pelos Estados Unidos e à revisão da OMS sobre o uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 – revela o despreparo deste governo para representar o país no enfrentamento desta pandemia. Em razão de o Brasil ser um país-membro fundador deste organismo multilateral, a decisão precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional.
Para a ABIA, embora a OMS tenha que superar muitos desafios internos e precise aperfeiçoar diversos aspectos, é um equívoco fazer deste organismo internacional mais um lamentável instrumento narrativo na luta política e ideológica no qual o país tem sido empurrado desde o início da pandemia do novo coronavírus.
As afirmações do presidente Jair Bolsonaro sobre a saída brasileira só contribuem para aumentar a instabilidade política e piorar ainda mais a resposta do país em face da Covid-19. O momento é de cooperação e colaboração internacional para o enfrentamento da Covid-19. O Brasil deve proteger a vida de seus cidadãos e manter uma imagem positiva do país internacionalmente, ao invés de brincar politicamente com uma realidade tão séria quanto a pandemia.
Lembramos que a OMS é uma instância pública de regulação e coordenação da saúde global e também uma instância de controle social, multilateral, composta por estados e que prevê a participação de diferentes setores e disciplinas na área de saúde.
Para nós, da ABIA, a ameaça de saída do Brasil da OMS é mais uma forma de escapar do controle público, de mascarar o fracasso que tem sido a resposta a esta pandemia e não prestar contas da tragédia humanitária que a Covid-19 tem significado para o país.
Reforçamos que, no pós-Covid – quando o mundo terá reaprendido o valor da saúde como um bem público – o Brasil deverá manter o seu compromisso com o fortalecimento do principal organismo internacional responsável em monitorar e orientar a saúde global no planeta.
Caso a saída da OMS se concretize, será a população brasileira quem irá pagar o preço pelo isolamento brasileiro da comunidade científica internacional. Epidemias não se enfrentam com bravatas e ameaças sem sentido.
Uma das valiosas lições do Sistema Único de Saúde brasileiro é a solidariedade como eixo orientador da intersetorialidade, interdisciplinaridade e internacionalidade. Em tempos de Covid-19, a solidariedade internacional é parte da solução dos problemas para garantir a saúde global.
Rio de Janeiro, 10 de junho de 2020
Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS