A ABIA repudia veementemente a abordagem exibida pelo Fantástico (TV Globo) no último domingo (15/03) sobre o “Clube do Carimbo”. Além de informações incompletas e incorretas sobre a eficácia (ou não) da transmissão do HIV, a reportagem contribuiu para o clima de pânico moral e trouxe de volta o fantasma da criminalização. A ABIA entende que a criminalização da transmissão do HIV gera muito mais danos do que benefícios em termos de saúde pública.
A equipe da TV Globo falhou ao ignorar as inúmeras pesquisas, informações qualitativas e as diversas técnicas de prevenção disponíveis no Brasil e mundo. Apesar de ter mencionado a PEP ( uso de medicamentos antirretrovirais pós exposição), o Fantástico ignorou outras tecnologias disponíveis e indispensáveis para uma política séria de prevenção, tais como a prevenção combinada, a PrEP (uso de medicamentos antirretrovirais pré-exposição), o tratamento como prevenção (uso de medicamentos antirretrovirais para prevenir a infecção pelo vírus), dentre outros.
A equipe do Fantástico errou gravemente ao tentar induzir a opinião pública a acreditar que uma pessoa em tratamento antirretroviral permanece com alta carga viral para a transmissão do vírus do HIV. A ABIA esclarece que alguém que esteja tomando regularmente a medicação durante anos possui maior probabilidade de alcançar uma baixa carga viral e, portanto, tem menor chance de transmitir o vírus. Enfatizamos também que o tratamento como prevenção está disponível no SUS porque a sua eficácia como prevenção já foi exaustivamente comprovada.
A ABIA esclarece que a abordagem usada pelo Fantástico gera mais “pânico moral”, reforça preconceitos e estigmas contra jovens gays e soropositivos com reflexos negativos na vida das pessoas. A reportagem é também um “desserviço” para a população na construção de uma resposta eficaz à epidemia na medida em que desloca para os supostos ‘carimbadores’ a responsabilidade pela transmissão entre jovens gays.
Por fim, a ABIA repudia veementemente a criminalização da transmissão e defende a necessidade urgente de diálogo com os supostos praticantes do clube do carimbo. Sem compreender o que está de fato acontecendo, será impossível construir uma intervenção positiva e eficaz. Nós, da ABIA, entendemos que o sensacionalismo puro, além de gerar a sensação de ódio e o clima “caça às bruxas”, enfraquece o combate à epidemia do HIV no país.
Rio de Janeiro, 17 de março de 2015
Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS