Durante a Conferência Internacional de AIDS, que começa nesta segunda-feira (18/07) e vai até 22 de julho, em Durban, África do Sul, a ABIA lançará a publicação “Mito vs Realidade: sobre a resposta brasileira à epidemia de HIV e AIDS em 2016”, no dia 20/07, às 14h, no Global Village.
Nesta data (20/07), haverá o lançamento simultâneo do “Mito vs Realidade”, em PDF, nas versões em português e inglês nos Observatórios comandados pela ABIA ( neste site e no Global AIDS Policy Watch www.gapwatch.org ).
Os dados alarmantes sobre o avanço do HIV e da AIDS no Brasil – o país conta mais de 40% de novas infecções na América Latina entre 2010 e 2015 – e que constam no Relatório sobre Prevenção 2016, do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV e AIDS (UNAIDS), reforçam a iniciativa da ABIA em oferecer ao mundo uma leitura crítica sobre o retrocesso brasileiro.
Com uma linguagem simples e objetiva, a publicação impressa oferecerá análises contundentes a fim de contribuir para a reconstrução da resposta brasileira à epidemia, outrora exemplar para o mundo.
Em editorial, a instituição avisa que sua preocupação inclui uma perspectiva global: “Mais do que denunciar a grave situação brasileira e chamar a atenção internacional para o Brasil, a publicação faz um alerta para o momento imperativo que o mundo experimenta hoje no enfrentamento da epidemia de AIDS”.
Richard Parker, diretor-presidente da ABIA, sintetiza a expectativa com o lançamento do Mito vs Realidade: “Enfim, o UNAIDS recomendou aos países que repensem suas políticas de prevenção. No caso brasileiro, já sabíamos que o que está acontecendo com a epidemia de AIDS é gravíssimo. Os tempos são sombrios, mas é possível retomarmos o caminho de volta para uma resposta eficaz à epidemia. Essa é a nossa expectativa”, afirma.
Também no dia 19/07, Parker participa da sessão satélite “Pedagogia da Prevenção do HIV: Relembrando o que temos aprendido”, quando será lançada a versão em inglês da publicação “Pedagogia da Prevenção: Reinventando a Prevenção do HIV no século XXI”. A sessão satélite acontecerá no dia 19/07, na Session Room3, no Durban International Center, das 7h às 8h30.
Panorama Brasil
Para a ABIA, o que acontece no cenário brasileiro fortalece o argumento de que as respostas biomédicas não substituem as respostas sociais. O Brasil abriu mão de construir uma resposta à epidemia utilizando a experiência dos movimentos sociais.
Na publicação, pesquisadores e ativistas convidados como Sônia Corrêa, Alexandre Grangeiro, Mario Scheffer, Veriano Terto Jr., dentre outros, oferecem um panorama crítico do país à luz da atual conjuntura política e econômica.
No artigo “A resposta brasileira ao HIV e à AIDS em tempos tormentosos e incertos”, Corrêa faz uma interessante retrospectiva histórica sobre os principais acontecimentos políticos que sedimentaram o caminho para o atual cenário de crise.
Já Grangeiro oferece uma avaliação realista sobre as diferentes visões (positivas e negativas) relacionadas ao impacto das ações preventivas e do acesso universal aos antirretrovirais no texto “Da estabilização à reemergência: os desafios para o enfrentamento da epidemia de HIV e AIDS no Brasil.
Descaso
Outra análise instigante é feita por Fernando Seffner e Richard Parker no artigo “A neoliberalização da prevenção do HIV e a resposta brasileira à AIDS”. Os autores analisam, por exemplo, que o país tem desperdiçado o conhecimento crítico acumulado de setores essenciais para a construção da resposta à epidemia. As organizações da sociedade civil estão sem apoio financeiro e sem voz em diversas instancias de decisões sobre políticas e ações de resposta ao HIV no país.
A análise crítica sobre a assistência é feita pelos especialistas Maria Inês Baptistela Nemes e Mario Scheffer, no artigo “Desafios da assistência às pessoas que vivem com HIV e AIDS no Brasil”. Os autores reconhecem que é necessária a recuperação de uma vigorosa resposta assistencial para o país retomar o caminho outrora reconhecido como bem-sucedido.
Por fim, Veriano Terto Jr, Pedro Villardi e Marcela Vieira no artigo “A luta continua: avanços e retrocessos no acesso aos antirretrovirais no Brasil”, apresentam as conquistas e debatem as ameaças ao programa de acesso universal aos medicamentos no Brasil.
Leia a seguir, trechos da publicação “Mito vs Realidade: a resposta brasileira à epidemia de HIV e AIDS em 2016 ”, que será lançada no dia 20/07, às 14h, no Global Village (Durban, África do Sul):
Cenas da AIDS no Brasil em 2016:
“Está em curso no Brasil uma restauração conservadora de amplas proporções que, entretanto, não deve ser interpretada como fenômeno inesperado. Suas origens podem e devem ser buscadas nos ciclos longos de constituição da formação social e política do país.”
Sonia Corrêa
“Os esforços para universalizar a testagem no país não se refletiram, na mesma proporção, em um aumento do número de pessoas que iniciam o seguimento clínico nos serviços públicos de saúde (…)o aumento do número de pessoas que iniciaram o uso dos antirretrovirais nos anos de 2010, está mais associado às mudanças do critério de início de tratamento do que ao aumento do diagnóstico e à maior inclusão de pessoas infectadas nos serviços de saúde.”
Alexandre Grangeiro
“A estratégia de tratamento como prevenção, em suas diferentes modalidades, foi adotada no Brasil a partir do final de 2013, se conjuga com certo raciocínio de ordem liberal (…). Com isso, fornece a pedra de toque para que aqueles que estão infectados pelo HIV e aqueles que possam vir a se infectar sejam lidos apenas como consumidores individuais de medicamentos, com o afrouxamento das estratégias coletivas e das respostas sociais a toda a complexidade da AIDS que (…) é muito mais do que (…) o ponto de vista biomédico.”
Fernando Seffner e Richard Parker
“As maiores ‘perdas’ no contínuo do cuidado após o diagnóstico ocorrem nas ‘etapas’ de retenção e de tratamento, ambas responsabilidade principal dos serviços de assistência.”
Maria Ines Baptistela Nemes e Mario Scheffer
“As resistências e as reticências do Ministério da Saúde e de alguns aliados, entre eles profissionais de saúde e gestores mais conservadores, em enfrentar a questão da incorporação de novos medicamentos (…) têm sido uma ameaça à retenção, a médio elongo prazos, das pessoas vivendo com HIV no tratamento e nos serviços de saúde.”
Veriano Terto Jr, Pedro Villardi
e Marcela Vieira