Foi lançado o Boletim nº 63, cuja edição tem como foco a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) – também conhecida pelo nome comercial Truvada. O lançamento aconteceu na sede da ABIA durante o debate “Desafios e possibilidades: a prevenção na era PrEP”. O evento contou com as presenças de Richard Parker, diretor-presidente da ABIA, Veriano Terto Jr., vice-presidente e Nilo Martinez Fernandes, pesquisador da Fiocruz. A mediação foi de Juan Carlos Raxach, coordenador da área de promoção e saúde da instituição.
Em 30 anos, esta é a primeira vez que a ABIA lança um boletim completo exclusivamente online. A instituição deve disponibilizar em breve uma versão impressa, porém resumida, a qual o público terá acesso ao boletim completo por meio do celular via QR codes. “Desde a década de 1980 fazemos o Boletim ABIA impresso e depois, com o advento da internet, disponibilizamos a versão em PDF. Esta é a primeira vez que fazemos uma versão completa somente no formato digital. A versão impressa será curta e com um convite para acessar o nosso site”, explicou Parker.
Durante o debate, o diretor-presidente destacou o caráter multidisciplinar da publicação e reafirmou o papel da informação para vencer o estigma e dar uma resposta positiva no enfrentamento à epidemia do HIV e da AIDS no país. “O surgimento da PrEP é sintomática em relação às mudanças que vem acontecendo nos últimos anos do ponto de vista biomédico, mas que pode impactar nas relações sociais e política. Daí a importância de circularmos informação sobre o tema”, afirmou Parker.
Barreiras
Em sua contribuição, Veriano Terto Jr., vice-presidente da ABIA, fez uma abordagem histórica sobre os discursos discriminatórios que acompanham as tecnologias de prevenção desde os anos 1980 com a popularização da camisinha. Para Terto Jr., esses discursos estão diretamente relacionados a perseguição aos grupos já marginalizados em nossa sociedade, como é o caso da comunidade LGBT. Além disso, colocam barreiras pontuais para a oferta e cobertura da PrEP e demais politicas publicas direcionadas as populações empobrecidas e/ou em situação de vulnerabilidade.
“Fala-se em PrEP como um sinônimo de promiscuidade, mostrando que o preconceito e o estigma às populações mais vulneráveis seguem um seletivismo, o que rompe com os conceitos de igualdade e universalidade. Temos que ter cuidado por que é aí que se incide a necropolítica (conceito elaborado pelo sociólogo camaronês Achille Mbembe), onde os governos decidem quem merece viver e quem não merece”, pontuou Terto Jr.
Convidado especial para o debate, Nilo Martinez Fernandes, um dos pioneiros dos estudos sobre a PrEP no Brasil, compartilhou dados do Projeto para Implementação da Profilaxia Pré-Exposição ao HIV no Brasil, no México e no Peru (ImPrEP), cujo objetivo é contribuir para a implementação da PrEP como estratégia de prevenção ao HIV. A ênfase é nos homens que fazem sexo com homens (HSH), mulheres transexuais e travestis. Atualmente 12 cidades implementam a PrEP no país, dentre elas Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro.
“Há alguns desafios importantes na implementação como o acolhimento e o aconselhamento. Hoje os profissionais não acolhem e não informam como a pessoa deve agir. Outro desafio é o retorno para a continuidade do uso da PrEP. Por exemplo, a Fiocruz liga para os usuários da PrEP para lembrar da importância da continuidade ao uso da profilaxia. O SUS também vai ligar? Esta é uma questão importante”, frisou Fernandes.
Coube a Juan Carlos Raxach a tarefa de apresentar o boletim no formato digital ao público presente. Ele também lembrou da necessidade de termos acesso à informação para a mobilização contra o conservadorismo e a cruzada contra os direitos sexuais e reprodutivos: “O olhar sobre a PrEP está muito localizado na moral, especialmente por seu uso por homossexuais e outras populações estigmatizadas”, reforçou.
O evento de lançamento do Boletim PrEP nº 63 Truvada Livre contou ainda com a presença de Felipe Fonseca, autor do artigo “Truvada Livre de Patentes e Preconceitos”. A publicação está disponível na página da ABIA. Para acessá-lo clique aqui.
Por: Maria Lúcia Meira (estagiária, sob a supervisão de Angélica Basthi)
Edição: Angélica Basthi