A roda de conversa “Ecos da Conferência Internacional de AIDS” foi o evento organizado pelo Grupo Arco Iris (GAI) no Rio de Janeiro para devolver à sociedade civil o que foi apresentado num dos mais importantes congressos sobre AIDS no mundo. A Conferência Internacional de AIDS, da International AIDS Society (IAS 2019) foi realizada entre os dias 21 e 24/07, na Cidade do México. A ABIA estava entre as instituições que, junto com cientistas e ativistas LGBTI e de luta contra a AIDS, compuseram a delegação brasileira.
O Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens conversou com o vice-presidente da ABIA, Veriano Terto Jr., que representou a instituição no congresso. Ao lado de Felipe Fonseca – que representa a ABIA na coordenação do GTPI – Terto Jr. participou no México do Simpósio “A força das parcerias! Engajados positivamente nas redes de pessoas que vivem com HIV para o teste, tratamento e prevenção”, de atos da sociedade civil organizada e acompanhou as inovações medicamentosas para a prevenção e tratamento do HIV. Nesta entrevista, resumiu como a experiência e quais foram os resultados e tendências na 10ª Conferência Internacional de AIDS (IAS 2019).
Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens: Quais foram as principais impressões obtidas na Cidade do México?
Veriano Terto Jr.: O evento teve uma série de novidades no campo da prevenção, do tratamento e outros campos que mencionamos no Grupo Arco Íris. Também falamos que os ativistas e vários cientistas que estiveram presentes no México reivindicara, que fosse uma conferência científica que enfatizasse uma ciência para todos e não uma ciência restrita, em que alguns poucos possam ter acesso. Trata-se de uma luta universal para que todos conheçam os resultados dos estudos científicos e também que os bons resultados estejam ao alcance de todas as pessoas que precisam. Não podemos produzir ciência só para uma parte da sociedade. A ciência deve ser para todos.
Também vale registrar que essa conferência foi marcada por uma maior participação das populações trans, principalmente de mulheres trans, embora ainda não seja como a gente gostaria. É preciso ter, por exemplo, mais mulheres trans na posição de palestrantes ou de mulheres trans que fazem ciência ou que trabalhem em pesquisa. Mas já foi um passo importante ter a representação da comunidade trans sendo ativa nesta conferência, inclusive em alguns paineis exposições.
Outro tema que foi mencionado foi sobre o fim da AIDS ainda estar longe. É preciso incluir 13 milhões de pessoas no tratamento, por exemplo. Outro desafio é o estigma ser um grande obstáculo tanto para a prevenção quanto para o tratamento. A questão não é só envolver as pessoas no tratamento, mas também como mantê-las, já que a taxa de abandono é grande. Envolver as pessoas no tratamento também implica medicamentos de qualidade. Nos países mais pobres ainda se usa medicamentos que já são obsoletos, que já são ultrapassados. É preciso saber como manter as pessoas no tratamento porque isso depende da qualidade do medicamento e da assistência integral que não envolva só dar o remédio, mas também estratégias de apoio psicológico e social e econômico para as pessoas se manterem em tratamento. Também foram apresentados na conferência estudos foram muito interessantes no sentido de apontar mais para tratamentos individualizados.
Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens: Como foi a participação da comunidade brasileira na conferência e qual foi a imagem do Brasil no combate à epidemia?
Terto Jr.: De maneira geral a comunidade brasileira teve uma boa participação. Não tivemos uma presença massiva de organizações da sociedade civil, o que mostra o enfraquecimento dessas representações e a questão cada vez mais difícil de recursos e financiamentos que temos encontrado. Para além disso, o Brasil apresentou seus números frente a epidemia de AIDS e também ficou claro para todos sobre o difícil processo social e econômico que estamos enfrentando e que, diante de tanto retrocesso, tende a piorar.
Fonte: Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens