Angelo Brandelli (PUC-RS) apresentou a pesquisa “Necessidades e barreiras para o acesso aos cuidados relativos ao HIV de pessoas trans no Brasil”, durante a mesa “Trans*-formações de Gênero e Sexualidade no Mundo Contemporâneo e suas Consequências para a Prevenção” no Seminário Dimensões Sociais e Políticas da Prevenção, organizado pela ABIA nos dias 28 e 29/11, no Rio de Janeiro. Brandelli demonstrou que a população HSH e trans somam 91,2% entre as pessoas qe usam preservativo como principal forma de prevenção. Ainda de acordo com a pesquisa, a taxa e frequência da testagem são mais altas entre as mulheres trans e travestis, respectivamente, 72,7% e 24,27%.
Embora os níveis de testagem sejam elevados, as informações coletadas sobre o conhecimento dos métodos de prevenção são desanimadoras. “Em 2015, 68,6% das pessoas entrevistadas não conhecia a Profilaxia Pós-Exposição (PEP). Considerando que a amostra foi com pessoas de alta escolaridade, os dados são ainda mais alarmantes”, analisou Brandelli. Outro indicador mostra que o estigma também afasta este público da testagem. Dados revelaram que 54,6% dos participantes não fazem exame por medo de saber a sorologia.
A violência sofrida pela população trans no Brasil também foi tema da mesa “Trans*-formações de Gênero e Sexualidade no Mundo Contemporâneo e suas Consequências para a Prevenção”. A abordagem foi dada pela ativista trans Bruna Benevides, da ONG Astra. Benevides lembrou que o Brasil é o país com maior índice de violência contra pessoas trans. Sobre as demandas específicas da comunidade trans no acesso à saúde, alertou sobre a falta de preparo dos médicos para atender as especificidades desta população.
Ainda segundo Benevides, é necessário fomentar o debate sobre sexo e sexualidade para as pessoas trans, além de permitir que os dados de pesquisas acadêmicas circulem entre a comunidade. “No movimento de HIV/AIDS é que conseguimos ter voz para levantar nossas bandeiras e casos. Mas é preciso investir na inserção de pessoas trans nos debates de acesso a saúde”, afirmou.
Outro assunto abordado durante a mesa foi sobre o impacto da sexualidade e da prevenção entre a população LGBT mais velha. “As pessoas trans não conhecem a experiência do envelhecimento, pois a expectativa de vida é de 27 anos”, iniciou Fernando Pocahy da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Segundo ele, hoje há uma tendência no envelhecimento da população o que fortalece a necessidade de investir em novas políticas de educação, saúde e trabalho. Atualmente, a população idosa corresponde a 8% da população brasileira e a expectativa é que se equipare a população jovem em alguns anos. “A velhice foi privatizada, pois os idosos sempre foram cuidados pela família. Como irão se suceder as políticas de saúde e sexualidade pelo governo?”, questionou Pocahy.
Reportagem: Naíse Domingues (estagiária sob supervisão de Angélica Basthi)
Edição: Angélica Basthi