A ABIA recebe com cautela o resultado do Boletim Epidemiológico – HIV AIDS 2018, divulgado nesta terça-feira (27/11) pela Secretaria de Vigilância e Saúde/Ministério da Saúde. A ABIA avalia como positiva as ações que resultaram no registro de queda no número de casos e óbitos por AIDS no país.
Para a ABIA, em razão do atual contexto conservador – e de retrocessos políticos, econômicos e culturais – investir na maior oferta de testagem e na incorporação do dolutegravir, entre outras medidas, são ações e políticas positivas capazes de influenciar na diminuição da taxa de mortalidade.
A ABIA reconhece que o novo boletim epidemiológico constata bons resultados, mas chama a atenção para o fato que os números de detecção de HIV e mortalidade por AIDS continuam altos – mais de 700 mil pessoas foram diagnosticadas com HIV de 2000 a junho de 2018 e ocorreram 4,8 óbitos para cada 100 mil habitantes no mesmo período.
Para nós, da ABIA, os números não se bastam por si mesmos. É preciso entender de que forma dialogam com as experiências vividas pelas populações mais vulneráveis. Onde está refletido, por exemplo, o sofrimento das pessoas que precisam esperar mais de um mês para serem vinculadas ao sistema de saúde pública?
Além disso, as regiões brasileiras continuam sendo afetadas pelo HIV e AIDS de forma diferenciada. A cidade de Porto Alegre é campeã na taxa de detecção de HIV em gestantes (7,6 vezes maior que a taxa nacional) e exibe mais que o dobro deste índice comparado a outras cidades do Rio Grande do Sul.
A ABIA lamenta que as populações mais vulneráveis permaneçam na linha de frente da epidemia. A maior concentração de casos continua sendo nos jovens gays e pessoas trans – sem qualquer evidência de avanços para estas populações, o que representa um fracasso grave para a resposta brasileira em face da epidemia nos grupos mais vulneráveis.
É também inaceitável que a população negra tenha tido um crescimento alarmante, com destaque para o ano 2017, quando houve um aumento de 57,3% de casos de AIDS entre homens negros e 61,1% entre mulheres negras. Estes dados confirmam as denúncias que a ABIA e outras instituições têm feito nos últimos anos: o avanço do conservadorismo responsável pelo aumento da marginalização por raça, classe e pela opressão sexual e de gênero em nosso país.
A ABIA vai continuar pressionando por respostas às seguintes perguntas:
- Como fazer para que a taxa de mortalidade caia ainda mais num contexto em que há o avanço de políticas que separam quem vai viver ou quem vai ter acesso aos bens e aos direitos?
- Como estes números podem melhorar num contexto de congelamento dos gastos públicos no campo da saúde nos próximos 20 anos?
- Que políticas serão adotadas em diferentes regiões para evitar que populações deixem de correr o risco de desaparecer na pobreza, na miséria e nas doenças que sequer são diagnosticadas, entre elas o HIV?
Rio de Janeiro, 28 de novembro de 2018
Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS