A Internet parou, com expectativa, para acompanhar mais um trabalho audiovisual da cantora e drag queen Pabllo Vittar. “Corpo Sensual” é a nova aposta do primeiro e aclamado álbum “Vai Passar Mal”. Durante o clipe, a artista de 22 anos dança, sensualiza e conquista o parceiro Mateus Carrilo, da Banda Uó, com quem divide ao som de uma animada música pop com efeitos de músicas nordestinas – Pabllo é do Maranhão. Até o fechamento deste texto foram quase 21 milhões de visualizações no YouTube.
Um dos momentos que mais chamaram a atenção no clipe é quando o clima esquenta entre Pabllo e Mateus aos 2m09s. Os dois entram no carro e ela “saca” uma camisinha e mostra ao parceiro. O momento acalorado suscitou comentários tais como o reproduzido a seguir: “Até agora eu tô querendo saber pra que camisinha se Pablo Vittar não engravida”.
Os comentários revelaram a falta de conhecimento de muitos jovens sobre o uso da camisinha para além da gravidez indesejada. As infecções sexualmente transmissíveis (IST’s) são exemplos de doenças que mais acometem esta parcela da população. O Ministério da Saúde, numa inédita ação de publicidade, apostou na informação e buscou a força da representatividade de Pabllo Vittar para influenciar os mais variados perfis de jovens por meio de uma linguagem particular. “Ela é uma das maiores artistas da atualidade, tem grande aceitação entre os jovens e conversa diretamente com o público a ser atingido pela campanha da camisinha”, disse em nota o Ministério.
Dados do último boletim epidemiológico relacionados as IST’s no Brasil revelam que a situação é alarmante com o aumento do número de infecções por HIV/AIDS entre o público jovem. Entre 2006 e 2015, a taxa entre aqueles com 15 e 19 anos mais que triplicou, passando de 2,4 para 6,9 casos a cada 100 mil habitantes. No ano passado, foram também registrados 141 mil novos casos de Hepatite B. Fora isso, doenças como sífilis e gonorreia também são transmitidas por meio de relação sexual sem proteção, independente da orientação sexual ou gênero dos envolvidos.
Para a ABIA, a parceria entre Pabllo Vittar e o Ministério da Saúde caracteriza uma importante ação e, uma mudança institucional significativa, ainda que momentânea. Isto ocorre na medida em que a pasta deixa de lado a retórica do mantra “use camisinha” via campanhas “chapas brancas” e sem conexão com a realidade.
Esta nova fase demarca, principalmente, um investimento na linguagem dos jovens e resgata a sensualidade, a ousadia, a libido e o prazer dos (diferentes corpos) como formas seguras de prevenção. Outro destaque é a escolha de uma cantora drag queen (e gay afeminado, “quando não montado”) como porta voz deste tipo de iniciativa, num momento em que o conservadorismo dita as políticas públicas no Brasil.
Rio de Janeiro, 14 de setembro de 2017
Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS