A palestra magna de Richard Parker, diretor-presidente da ABIA, e Gabriela Calazans, pesquisadora do Departamento de Medicina Preventiva do Universidade de São Paulo (USP), na abertura do 3° Seminário de Capacitação em HIV – Aprimorando o Debate III, demarcou o lugar estratégico da prevenção e da resposta comunitária ao HIV e à AIDS no Brasil. A década de 1990 foi apontada como o momento de ouro da prevenção no país em razão da abordagem positiva da sexualidade.
A tarde da abertura oficial começou com a exibição do documentário “Camisinha ainda tem prazo de validade”, seguido de debate com o diretor e coordenador do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens da ABIA, Vagner de Almeida. Cerca de 60 pessoas participaram da atividade. O filme captou a realidade vivenciada pelas pessoas e seus dilemas no uso ou não da camisinha. “Hoje há outros métodos de prevenção disponíveis. Mas enquanto falarmos de PrEP e outros nomes estranhos vai ser difícil informar as pessoas sobre essas ferramentas e, consequentemente, dar acesso a elas”, frisou o diretor do filme.
Durante a palestra magna, Parker, por exemplo, destacou o impacto negativo na resposta à epidemia após as comunidades terem excluídas da construção política no enfrentamento do HIV e da AIDS. Segundo ele, a prevenção nascida na resposta comunitária esteve presente desde os primeiros passos no enfrentamento da epidemia. “Na história da prevenção, as invenções não foram criadas pelos especialistas, mas sim pelas comunidades afetadas. Quando os especialistas chegaram, as comunidades perderam o domínio neste campo. Nós, da ABIA, priorizamos a Pedagogia da Prevenção traduz a tentativa de retomar isto”, frisou.
Já Gabriela Calazans destacou que no campo da AIDS é central a articulação entre os diferentes atores (sociedade civil, governo e universidades), bem como entre os diferentes universos que abrangem o tratamento, o cuidado e a prevenção. “A grande questão é articular o direito à saúde e também o direito à prevenção para os soronegativos e ao tratamento para as pessoas que vivem com o HIV”, salientou.
Poder de articulação
No resgate histórico da prevenção na última década, a especialista identificou o poder de rearticulação da sociedade civil e das universidades na construção da resposta da epidemia. “No início dos anos 1990, havia o discurso de que a AIDS mata e que vai de pegar, uma ênfase na ideia do medo. Após a mudança do governo, a sociedade civil e as universidades formaram a ideia de que a resposta à epidemia é articulada. Foi o momento de outro da política de prevenção pois foi possível uma abordagem positiva da sexualidade e o conceito que orienta a prevenção é o comportamento de risco na perspectiva da vulnerabilidade”, afirmou Calazans.
Ao final, a especialista lembrou dos materiais produzidos pela ABIA e outros projetos que possibilitaram a investigação do cenário erótico e das transas nos diferentes contextos. “As oficinas eram muito ricas e ousadas neste sentido. A ABIA tem materiais e vivências muito ricas como, por exemplo, o uso de filmes pornôs para orientar a discussão. Como seria isso hoje? Creio que o ambiente seria muito tenso”, disse Calazans.
O 3° Seminário de Capacitação em HIV – Aprimorando o Debate III é uma realização da ABIA. O tema desta terceira edição é “Prevenção das ISTs/AIDS: novos desafios na quarta década da epidemia” e acontece até sexta-feira (28/06) no Scorial Hotel, localizado no Flamengo (próximo ao Largo do Machado).
Reportagem: Angelica Basthi