A 18ª edição do Camarote Virtual Solidário contou com a presença de dois ativistas que fazem parte da história da luta contra AIDS no Brasil.
Alessandra Nilo foi uma das fundadoras da Gestos, em 1993. O primeiro projeto desenvolvido tinha como foco o atendimento psicológico das pessoas vivendo com a AIDS, além da formação de agentes multiplicadores de informação nas comunidades mais carentes da Região Metropolitana do Recife.
A Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA), consolidou sua atuação institucional de 28 anos. Fundada em 1987 pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, e outros ativistas. É uma organização que atua na mobilização da sociedade civil para o enfrentamento da epidemia de HIV e da AIDS no Brasil. Entre os temas prioritários, estão o acesso ao tratamento e assistência, e a defesa dos direitos humanos das pessoas que vivem com HIV e AIDS.
O vice-presidente da ABIA, Veriano Terto Jr., afirmou que a instituição atua na mudança por um mundo melhor em um esforço solidário que dialoga não apenas com a luta das pessoas com HIV, mas passando também pela questão de gênero e raça. “Acho que esse é um grande exemplo porque é uma união que não é comum de se ver em outros movimentos. A primeira vez que a Parada entra com o tema HIV é muito importante, não apenas pelo impacto que a aids teve na vida de homossexuais. Não podemos pensar no movimento de aids sem pensar na força e construção feitas por pessoas LGBTs. Conseguimos vitórias incríveis na área da saúde em um país difícil para essa luta.”
Para Alessandra, a resposta ao HIV se construiu de forma multidisciplinar. “O preconceito e discriminação que existem em relação ao tema do HIV e da AIDS fez com que o Movimento LGBT tentasse mostrar que nossos problemas não são apenas o HIV. Nossos desafios também são os direitos civis, o reconhecimento a nossa existência. Fiquei contente por ter visto esse tema na Parada porque, nesse momento a população LGBT precisa se reafirmar. Até mesmo porque a Covid impôs esse desafio. Isso significa que a comunidade entende esse tema como relevante, porque nesse momento não estamos nem conseguindo garantir esses serviços e nem falar de prevenção, já que estão todos preocupados com a questão da Covid-19.”
Reconhecimento
Alessandra lembrou que até o ano de 2011, não se falava em populações chaves nos documentos relacionados à epidemia de HIV/AIDS. E, em 2016, finalmente foi conquistado o reconhecimento às pessoas trans com a inclusão neste grupo.
Nesse sentindo, Veriano acredita que hoje o desafio ainda é grande como, por exemplo, a existência de situações como reportagens preconceituosas a respeito do “clube do carimbo”, mostrando como homens gays e mulheres trans ainda são apontados como vetores da doença. “A outra questão é o acesso à prevenção. A gente sabe que um obstáculo para implementação da PrEP como um direito está no preconceito contra a homossexualidade. Há pessoas que dizem ser contra esse tipo de profilaxia por acreditar que favorece a prostituição e as relações entre homossexuais.”
Por outro lado, Veriano vê como positivo, o fato de pessoas LGBTs estarem lutando agora, nos Estados Unidos, por exemplo, para diminuir o valor do medicamento Truvada para garantir acesso à PrEP.
“Há também de se pensar no envelhecimento dessa população, como é o caso de pessoas trans que são consideradas velhas para o mercado da prostituição e enfrentam um cenário ainda mais desafiador no mercado de trabalho tradicional”, defende Veriano.
Alessandra afirmou que, apesar das pautas específicas, “quando se olha a composição do Movimento AIDS, essa é multifacetada e incorpora outras demandas, porque estamos falando fundamentalmente sobre direitos sexuais e isso dialoga com a nossa diversidade. Precisamos ir mais além, temos falado muito sobre tirar a aids da caixinha. Quando você olha as pessoas negativamente afetadas pelo HIV, são pessoas majoritariamente pobre e negras. Então, são camadas sociais que precisam ser incorporadas nas nossas estratégias. A gente precisa começar a tirar essas cascas e entender que a luta por direito precisa ser centrada nos grandes temas. Discutir a seguridade social, acesso à renda, à justiça social, à trabalho digno. O ativismo não sonha com um mundo impossível, justiça social significa a correção de rumos que podem ser mudados através de direitos, serviços e programas públicos que precisam chegar a todas as pessoas sem deixar ninguém para trás.”
O Camarote
O Camarote Solidário da Agência de Notícias da Aids aconteceu nesse domingo (6) para incentivar a solidariedade e o orgulho LGBTQIA+. Assim como a 25ª edição da Parada LGBT de São Paulo, que este ano trouxe como tema central os quarenta anos de epidemia da aids no mundo, a 18º edição do Camarote debateu ao longo do dia os avanços e desafios na luta contra AIDS no Brasil. Foram sete horas de entrevistas intercaladas com shows e muita arte.
Idealizado pela jornalista Roseli Tardelli, diretora desta agência, o Camarote tem por objetivo arrecadar alimentos para as ONGs que acolhem pessoas vivendo com HIV/AIDS.
O Camarote Solidário existe desde 2002 e teve um intervalo de três anos, em 2013 e 2014, quando deu lugar ao Trio Solidário, e em 2020 que não aconteceu por conta da pandemia de Covid-19 .
Até 2019, 17 ONGs foram contempladas com as doações. Em sua última edição, o Camarote arrecadou 3,3 toneladas de mantimentos.
Saiba como doar a cesta básica
Você pode doar via QR Code, é só apontar a câmera do seu celular para a imagem e verificar o código com o próprio aparelho smartphone. O link é redirecionado a uma página específica de doação, onde você pode escolher quantas cestas doar.
Você também poderá doar clicando aqui.
O Camarote Virtual Solidário é um evento social, organizado pela Agência de Notícias da Aids e tem o apoio do SESC, do Senac, das farmacêuticas GSK ViiV Healthcare, Jansen e Gilead, da DKT do Brasil, de Mulheres no E-Commerce e da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo. Contamos também com a parceria do site Catraca Livre que vai transmitir o evento conosco.
Fonte: Agência de Notícias da AIDS