A mobilização fez parte de uma ação global dos Médicos Sem Fronteiras, lançada no dia 10/10, para exigir que a farmacêutica Johnson & Johnson reduza o preço da bedaquilina para não mais de US$ 1 por dia. O objetivo é tornar o tratamento acessível, permitindo sua expansão e a redução das mortes causadas pela tuberculose resistente.

Em resposta à Agência de Notícias da AIDS, a companhia disse que é parceira dos esforços globais para enfrentar a tuberculose e compartilha com a organização Médicos Sem Fronteiras o objetivo de garantir que a bedaquilina chegue a todos os pacientes que precisam do medicamento. A Johnson & Johnson garantiu ainda que por meio de sua estrutura global de saúde pública, segue em conversas com entidades governamentais e organismos multilaterais para encontrar um modelo de fornecimento do medicamento aos pacientes de países com poucos recursos, incluindo o Brasil, que melhor se adeque às necessidades de cada país.

Brasil

No Brasil, a droga foi aprovado pela Anvisa em fevereiro deste ano e aguarda a aprovação da CONITEC (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS) para ser incorporado na política pública de saúde. “A rápida incorporação da bedaquilina e a aquisição do produto a preços baixos são prioridades para que o Brasil consiga oferecer regimes de tratamento da tuberculose resistente que sejam 100% orais, mais curtos e com menos efeitos colaterais, conforme recomenda a Organização Mundial da Saúde”, afirmou Felipe de Carvalho, coordenador da Campanha de Acesso no Brasil.

O país está na lista de países com mais alta carga de tuberculose (20ª posição) e na relação dos países com maior número de casos de coinfecção TB-HIV (19ª posição). Foram 75 mil novos casos registrados no Brasil em 2018 e 4,6 mil mortes em 2017. O Brasil tem como meta tratar até 2022 cerca de 7 mil pessoas com tuberculose resistente.

Novo medicamento

De acordo com os Médicos Sem Fronteiras, este é o primeiro remédio desenvolvido contra a tuberculose em 40 anos. “Mais de 80% das pessoas afetadas em todo o mundo por tuberculose resistente a medicamentos não têm acesso a essa droga e o preço continua sendo uma das principais barreiras.”

Os ativistas também gritaram outras palavras de ordem, como: “O empresário abaixa o preço, bedaquilina a US$ 1 por dia eu mereço”, “Bedaquilina, um dólar por dia. Johnson & Johnson você tem que nos ouvir.”

Atualmente, segundo Felipe de Carvalho, o preço cobrado pela farmacêutica é o dobro do reivindicado. Os países que fazem parte do Global Drug Facility – mecanismo para a aquisição de remédios e diagnósticos de tuberculose – estão pagando em média US$ 400 para um tratamento de seis meses. Ainda de acordo com os Médicos Sem Fronteiras, o preço mais baixo cobrado atualmente pela fabricante por 20 meses de bedaquilina é de aproximadamente US$ 1.200 (US$ 2 por dia).

“Pesquisadores da Universidade de Liverpool calcularam que a bedaquilina poderia ser produzida e vendida com lucro por muito menos, a partir de US$ 0,25 por dia, se pelo menos 108 mil tratamentos fossem comercializados por ano. A US$ 1 por dia, o preço da bedaquilina seria de US$ 600 por pessoa para os 20 meses de tratamento necessário para muitos pacientes de tuberculose resistente”, diz o documento entregue pelo movimento social, no final do protesto, aos representantes da Johnson & Johnson no Brasil.

Os manifestantes alegaram que a Johnson & Johnson não pode cobrar mais de US$ 1 por dia porque a droga foi desenvolvida em parceria com várias instituições da sociedade civil. “O desenvolvimento da bedaquilina foi um esforço coletivo. Quando o público financia um medicamento que salva vidas, exigimos que ele esteja disponível e acessível ao maior número de pessoas possível para que mais vidas sejam salvas.”

Recomendado pela OMS

Desde 2018, é recomendado pela OMS que a benaquilina seja utilizada como parte central no tratamento oral, substituindo as drogas injetáveis. Pesquisas comprovaram os benefícios da droga, inclusive entre pessoas vivendo com HIV. O tratamento anteriormente recomendado exigia que o paciente ingerisse até 20 comprimidos por dia durante dois anos e enfrentasse injeções diárias e efeitos colaterais severos, como psicose, náusea contínua e surdez.

Para a ativista Isabel Balla, do Mopaids (Movimento Pauslistano de Luta Contra Aids), o preço abusivo é um desrespeito a população. “O slogan da empresa é ‘Cuidar do mundo, uma pessoa de cada vez. A Johnson&Johnson promoverá o bem estar de cada pessoa’. Ai eu pergunto: cadê a saúde e o bem-estar?”, questionou.

Do Fórum de ONGs/AIDS de São Paulo, Rodrigo Pinheiro, lembrou que o problema no estado não é apenas relacionado a tuberculose. “A Secretaria Estadual de Saúde cogita fechar a Fundação para o Remédio Popular de São Paulo, a maior fabricante pública de medicamentos no País. É inaceitável. Queremos que este laboratório dê conta de produzir medicamentos negligenciados, como a penicilina benzatina, usada no tratamento da sífilis.” Rodrigo aproveitou para cobrar do governo mais empenho no acesso a medicamentos fundamentais. “Se as empresas não querem negociar o preço, então precisamos quebrar patentes”, finalizou.

Protestos como este aconteceu também em cidades dos EUA, África do Sul, Bélgica, Ucrânia e Espanha. No Brasil, o grupo entregou aos representantes da indústria cartas de pacientes que precisam deste medicamento. Os militantes acreditam que a expansão rápida do tratamento só vai acontecer se a indústria facilitar o acesso, incluindo a permissão para que outros fabricantes de medicamentos contra a tuberculose produzam versões genéricas.

 

Outro lado

Em resposta enviada à Agência de Notícias da Aids sobre a manifestação global realizada pela organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras, que também ocorreu em frente à sede da Johnson & Johnson no Brasil, em São Paulo, a empresa esclarece:

A Johnson & Johnson respeita o direito de manifestação da entidade.

A companhia é uma parceira dos esforços globais para enfrentar a tuberculose e compartilha com a organização Médicos Sem Fronteiras o objetivo de garantir que a bedaquilina chegue a todos os pacientes que precisam do medicamento.

A bedaquilina é um medicamento inovador indicado para o tratamento da tuberculose multirresistente e foi recentemente aprovado pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no Brasil.

Por meio de sua estrutura global de saúde pública, a Johnson & Johnson segue em conversas com entidades governamentais e organismos multilaterais para encontrar um modelo de fornecimento do medicamento aos pacientes de países com poucos recursos, incluindo o Brasil, que melhor se adeque às necessidades de cada país.

O medicamento já está disponível em mais de 130 países. O preço da bedaquilina é formulado em um modelo sem fins lucrativos que possibilita sua produção, distribuição, cumprimento de processos regulatórios e compromissos de pesquisa e desenvolvimento, farmacovigilância e segurança que devem ser realizados após a disponibilização aos pacientes.

O preço da bedaquilina, medicamento inovador, é igual ou menor ao das demais medicações que tratam a tuberculose e que estão disponíveis globalmente há algumas décadas.

Publicado em Agência de Notícias AIDS 

Fonte: GTPI