Revisitar o início da prevenção ao HIV/AIDS e desenvolver novos discursos para superação dos desafios à prevenção são prioridades para o pesquisador do Núcleo de Estudos para a Prevenção da AIDS (NEPAIDS/USP), Thiago Pinheiro. O estudo foi apresentado durante seminário Dimensões Sociais e Políticas da Prevenção, realizado pela ABIA, nos dias 28 e 29/11, no Rio de Janeiro.
“Podemos aprender refletindo sobre todo o caminho da prevenção no campo da AIDS ao longo dos anos para trazer isso ao contexto atual de novas possibilidades de intervenção e o que precisamos enfrentar de novo, seja um conservadorismo diferente, novas barreiras e mesmo avaliar como nos tornamos conservadores também”, disse Pinheiro.
No estudo, o pesquisador avalia que foi ao adotar um discurso técnico que a camisinha rompeu com o conservadorismo e as resistências religiosas em torno do seu uso durante o enfrentamento do avanço da epidemia de AIDS, no fim dos anos 1980 e começo dos 1990.
“E foi assim que o ‘use camisinha’ passou a ser dito com a mesma tranquilidade e neutralidade de ‘tome um analgésico’. Uma normatização em favor do conceito de sexo seguro ”, comentou.
Por outro lado, a prevalência do discurso técnico também produziu alguns problemas: as campanhas passaram a tratar do uso da camisinha como obrigação, condenando o não uso e causando a dificuldade de reconhecimento de outras formas de prevenção resultantes do avanço científico.
“Este tecnicismo abriu uma brecha para a lógica conservadora. Não se falou mais em sexo para se passar a falar somente em uso de preservativo”, criticou Pinheiro. Descontextualizada das práticas sexuais como o homoerotismo, além de promover a culpa pelo não-uso, esta visão também negou a autonomia dos sujeitos sexuais que deveria estar acima do tecnicismo médico.
Como avançar
Em tempos de alternativas eficazes de prevenção, Pinheiro reconhece a dificuldade de resgate e rearticulação de um discurso por parte dos movimentos sociais no atual contexto brasileiro de fortalecimento das resistências moralistas e conservadoras na política.
“É necessário que as campanhas traduzam a autonomia, levando em conta os contextos, as particularidades e os compromissos com os direitos das pessoas”, afirma, ressaltando que o discurso não pode se materializar em uma prevenção efetiva quando está desconectado da vida das pessoas”, afirmou.
Outro caminho é a necessidade de re-erotização das campanhas e superação das barreiras moralistas e incluindo, por exemplo, gays e homens que praticam sexo com outros homens (HSH) para um avanço efetivo no enfrentamento da epidemia e redução das taxas de infecção neste público pela adesão e acesso amplo às novas tecnologias de prevenção em HIV/AIDS.
Reportagem: Yusseff Abrahim
Edição: Angélica Basthi