A sede da ABIA, outra vez, consolidou-se como um espaço de manifestações plurais e diversas. Durante lançamento da nova versão da cartilha “Prevenção Combinada: Barreiras ao HIV” no dia 9 de março, 40 participantes – entre representantes de instituições parceiras, ONGs do segmento LGBT e HIV/AIDS, estudantes e convidados da esfera governamental – sentaram-se lado a lado para debater sobre as diferentes experiências em torno da prevenção combinada, quais as principais barreiras e desafios. A organização do encontro ficou sob a coordenação de Vagner de Almeida e Juan Carlos Raxach.
O autor da cartilha, Juan Carlos Raxach, abriu o debate ressaltando a importância do material como “uma experiência de aprofundamento das questões relativas às novas tecnologias de prevenção”. Em seguida, Richard Parker, diretor-presidente da ABIA, deu início a roda de conversa e salientou o papel do Brasil na resposta à epidemia de HIV/AIDS. Segundo ele, apesar do protagonismo e pioneirismo brasileiro no enfrentamento da doença e, conseqüentemente, sua liderança mundial no seguimento, “atualmente essas respostas têm sido comprometidas”. Parker se mostrou preocupado com o fato da prevenção ter deixado de ser prioridade na política implementada pelo governo federal e também na pauta da sociedade civil. “Relançar a cartilha é uma tentativa de discutir novamente a questão da prevenção, que precisa ser debatida publicamente, a fim de resgatar em nossa sociedade e no movimento de AIDS sua importância. Temos que nos mobilizarmos outra vez”, disse.
Outro ponto discutido foi o empoderamento do indivíduo e o acesso à informação como estratégias imprescindíveis no campo da prevenção. Beatriz Grinsztejn, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Clínica (IPEC/FIOCRUZ), e uma das palestrantes convidadas, afirmou que é necessário “educar a sociedade para a questão do tratamento e prevenção no Brasil. Muitas estratégias e possibilidades estão implementadas, mas não disponíveis efetivamente e nem de conhecimento geral. Falta divulgação”. Ainda segundo ela, a qualidade da cartilha sobre prevenção combinada é um grande diferencial, pois “o foco na camisinha não é a única solução para uma prevenção eficaz”.
Já Glória Victorino, uma das participantes com ampla experiência com jovens de comunidades do Rio de Janeiro, acredita que a camisinha não pode ser deixada de lado nesses locais, pois ainda é a única maneira que os jovens têm para se proteger das DSTs. Em resposta, Juan Carlos afirmou que “o objetivo da cartilha não é banir o uso da camisinha, mas sim evidenciar que existem pessoas que não usam ou não gostam do preservativo, precisando assim também dispor de outras possibilidades de prevenção ou combinação eficaz”.
Denise Pires, integrante da coordernação estadual de DST/AIDS, disse que a capacitação de profissionais de saúde junto às novas tecnologias já é uma realidade. Entretanto, há uma enorme resistência desses profissionais, o que prejudica a disseminação da informação. Para Rafael Agostini, do Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC/UFF), é a perda do poder político dos movimentos LGBT e HIV/AIDS que prejudica a articulação de um trabalho conjunto para além daquilo que diretamente os afetam. Agostini afirma que “É preciso definir que tipo de papel queremos nessa sociedade”, frisou.
Originalmente editada em 2010 pelo Grupo de Incentivo à Vida (GIV), a cartilha “Prevenção Combinada: Barreiras ao HIV” foi relançada pela primeira vez pela ABIA em 2011. A nova versão conta com uma tiragem de quatro mil exemplares e foi atualizada por Juan Carlos Raxach, com a contribuição de Jorge Beloqui (GIV) e Veriano Terto Jr. (UFRJ).