A Copa do Mundo foi considerada “ruim” pelas trabalhadoras do sexo no Rio de Janeiro. A avaliação foi divulgada pelo Observatório da Prostituição, um projeto do Laboratório de Etnografia Metropolitana da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com base na observação do movimento nos locais onde há prática da atividade e entrevistas com 116 mulheres, durante o mundial e nas semanas seguintes.
O levantamento aponta que, apesar da presença de um número significativo de turistas nacionais e estrangeiros na cidade, houve um declínio no comércio sexual durante os 32 dias do evento. Em meio a 83 pontos de prostituição pesquisados que concentram 75% deste tipo de atividade no Rio, apenas 17 registraram aumento e em outros 6 o fluxo de clientes foi normal. Em contrapartida, nos demais 60 pontos, inclusive na Vila Mimosa, onde trabalham cerca de mil mulheres, a queda estimada no movimento de clientes variou de 30% a 50% entre 12 de junho e 13 julho.
De acordo com o observatório, a baixa pode ser atribuída a um conjunto de fatores, como o fechamento do comércio do Centro da cidade nos sucessivos feriados decretados durante a Copa, além da dependência da Vila Mimosa e dos pontos de prostituição do Centro (onde estão as maiores concentrações de prostitutas) de clientes nativos que não circularam nessas áreas em feriados.
O levantamento também sugere que não houve uma substituição de clientes nativos por estrangeiros, já que os turistas ficaram concentrados na Zona Sul e na Lapa. Além disso, o perfil dos turistas estrangeiros que estiveram no Rio de Janeiro, a maioria vinha de países da América do Sul, tinha poucos recursos financeiros.
Segundo os pesquisadores, esta concentração de turistas também suscitou uma migração interna, em que muitas prostitutas deixaram o Centro e a Zona Norte para frequentar a orla de Copacabana. Com isso, uma pequena faixa do bairro acabou reunindo a maioria das atividades sexuais comerciais na cidade, produzindo uma falsa impressão de que a prostituição havia aumentado.
‘RIO SURREAL’
Os autores da pesquisa também acreditam que os preços muito elevados do Rio impuseram restrições financeiras aos turistas, limitando gastos com custos considerados “não essenciais”. Neste sentido, acredita-se que muitos homens solteiros que visitaram o Rio durante o mundial estavam mais interessados em gastar dinheiro e tempo conversando com amigos e bebendo do que consumindo serviços sexuais.
A pesquisa também lembra que, nos meses anteriores à Copa do Mundo, houve muitas especulações sobre os efeitos do evento sobre a exploração sexual de crianças, adolescentes e mulheres. No entanto, as evidências coletadas pela pesquisa no Rio indicam que não houve, neste período, aumento substantivo da prostituição, bem como da exploração sexual de crianças e adolescentes que pudesse ser atribuída ao crescimento do comércio do sexo nessas cidades.
OPINIÕES
O estudo também mostra algumas opiniões apresentadas pelas próprias prostitutas durante a pesquisa.
— Tem muito homem no calçadão, sim, mas eles não querem pagar programa. Querem gastar o dinheiro que têm bebendo cerveja com seus amigos e falando de futebol — reclamou Diana, de 19 anos, em Copacabana.
A Simone, que trabalha em uma casa na Zona Portuária também protestou:
— Geralmente levo uns R$ 700 para casa, toda semana. Nas duas últimas semanas [de junho], ganhei um total de somente 500 reais, e olha lá! Nem consegui pagar a matricula de meu filho.
Fonte: O Globo