Durante o 11º Congresso de HIV/AIDS e 4º Congresso de Hepatites Virais, que aconteceu de 26 a 29 de setembro em Curitiba, o Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens da ABIA realizou a esquete teatral “Que Preconceito Você Trouxe Hoje?”. Organizado pelo coordenador de projetos Vagner de Almeida, o jogral expressionista instigou os presentes a expor os próprios preconceitos. Durante uma hora, a atividade centralizou as ações em torno de elementos textuais que denunciavam comentários racistas, sexistas, homofóbicos, transfóbicos e inúmeras outras formas de ser pejorativo para com alguém.
“Tragam seus preconceitos! Todos nós temos algum tipo de preconceito que não revelamos. É muito importante botarmos para fora tudo aquilo que temos dentro de nós. Aquelas opressões que atinge a sociedade por serem negros, gordos, LGBT, afeminado, travesti, puta”, bradou Almeida do centro do palco. A primeira a encarar o público e o microfone foi a jornalista Angélica Basthi. Durante seu expressionismo, ela exasperou o preconceito racial ao impunhar palavras como “sai daqui seu negrinho. Você não vale nada. Sujo!”. Apesar de usar palavras fortes, uma das propostas da oficina era trabalhar a auto estima, o fortalecimento psicológico e o acolhimento dos indivíduos oprimidos pelo sistema.
Em seguida foi a vez de uma das representantes do movimento das prostitutas do Brasil deixar a mensagem/protesto no palco. “Eu quero falar a respeito dos preconceitos que nós, putas, sofremos. Temos o direito de ser putas e sermos respeitadas por isso. Viva as putas! Viva a liberdade! Respeitem as putas!”, afirmou. O momento de maior destaque ainda estava por vir. Almeida levou para o palco o estigma e o cerceamento em torno da nudez nos dias de hoje: “A nudez é algo tão natural e ainda assim as pessoas consideram tabu e tratam como se fosse algo ruim ou proibido”.
A interação e palavras acima serviram de fomento para que o coordenador da ABIA provocasse a plateia com a seguinte pergunta: “quem teria coragem de ficar nu no palco?”. Para surpresa de todos, o jovem ativista e advogado Ozéias aceitou tirar a roupa e despiu-se lentamente no meio da Vila Social. O ato gerou desde aplausos, gritarias, olhares curiosos, olhares repressores até fotos e vídeos. “Quero dizer que eu fiz isso aqui porque não tenho qualquer problema com meu corpo. Eu me sinto bem com ele, sou feliz com minhas qualidades e defeitos e acho que temos que ser todos assim. Nos aceitarmos e vivermos livre de padrões que querem nos empurrar”, afirmou Ozeias. O público ficou dividido entre aqueles que defenderam a nudez e os que classificaram de ato exagerado. Como diz Almeida em tom de protesto em relação à neurose que paira nos dias de hoje no universo dos moralistas e fundamentalistas: “Toda Nudez Não Será Castigada”
Após essa intervenção, foi a vez de uma outra integrante do movimento social marcar presença com sua fala sobre a soropositividade. “Fico muito incomodada quando ouço, até mesmo dentro do movimento social, as pessoas dizendo que quem tem HIV/AIDS é portador. Portador do que? Não portamos nada. E aí eu pergunto a vocês: o que nós somos? Somos pessoas vivendo e convivendo com o vírus HIV e a AIDS. Eu sou uma pessoa comum, vivo minha vida e não gosto de ser caracterizada como portando alguma coisa”, criticou.
Durante o jogo teatral uma jovem surpreendeu e emocionou todxs ao revelar que descobriu o que era preconceito ao ouvir de seu médico que ela deveria ter amor próprio, já que havia descoberto recentemente que seu parceiro era soropositivo, e a mesma muito consciente de suas escolhas o respondeu que “ o seu amor próprio estava em usar o preservativo. ” A fala arrancou muitos aplausos daqueles que estavam na Vila Social.
P.S: as fotos da oficina que continham a nudez de Oséias foram bloqueadas do Facebook, mesmo após terem sido editadas (ou seja, sem nudez explícita)
Texto: Jean Pierre Oliveira, Jessica Marinho e Vagner de Almeida
Edição: Angélica Basthi