A ABIA inaugurou a agenda institucional do Dezembro Vermelho, um calendário de atividades e ações para o enfrentamento do HIV e da AIDS no Brasil, aprovado este ano pela Câmara dos Deputados. Para marcar as atividades da ABIA na Semana de Luta Contra a AIDS, foi lançada no dia 30/11 a publicação Pedagogia da Prevenção: reinventando a prevenção do HIV no Século XXI (já disponível no site para download).
O evento, que aconteceu na sede da instituição, contou com a participação dos autores Richard Parker, diretor-presidente da ABIA, e Veriano Terto Jr, assessor de projetos.
Kátia Edmundo, coordenadora executiva da instituição, deu boas-vindas a mais de 50 pessoas presentes (jovens e ativistas históricos), reafirmando a importância do diálogo horizontal e informal. Em seguida, Parker e Terto Jr. deram início ao debate, mediado pela jornalista e coordenadora de comunicação da ABIA, Angélica Basthi.
Parker pontuou sobre os problemas que são pano de fundo para o atual momento da epidemia no Brasil, como o moralismo, a censura de campanhas e dos materiais informativos, além da estagnação do campo da prevenção. Segundo ele, faz-se necessário refletir sobre prevenção e atualizá-la para o século XXI, de acordo com as novas tecnologias disponíveis e os novos contextos. Para isso, Parker destacou que é preciso “abraçar o leque preventivo sem abandonar ativismo e resposta política”.
Já Terto Jr. destacou o texto da publicação como uma reação ao conservadorismo que tem provocado o afastamento entre saúde pública e direitos humanos com alto impacto na resposta à epidemia do HIV. Terto Jr também apontou a cooptação de ativistas do movimento AIDS pelo governo, o afastamento da resposta comunitária, a privatização do SUS e a centralização das decisões sobre a epidemia como motivos para a falência da resposta brasileira. O assessor destacou a mutação da epidemia, de acordo com mudanças comportamentais e políticas e a necessidade do empoderamento das pessoas para que cada indivíduo seja “o sujeito de sua prevenção”.
Ativismo cultural
O público presente participou ativamente do debate. Para o ativista José Luís, por exemplo, há uma negação da política de AIDS, principalmente nos cortes em áreas que afetam diretamente a resposta à epidemia: educação, saúde e segurança pública. O ativista ainda criticou a política de Testar e Tratar. “Como o testar e tratar vai cumprir as metas, se o Brasil não conseguiu alcançar os objetivos da atual política, que está sendo trocada por esse programa importado, e que não leva em conta o contexto do país?”, questionou.
Outro que também criticou o Testar e Tratar foi o ativista Cazu Barroz, da Secretaria Executiva do Fórum de ONG AIDS/RJ. Para ele, não há diálogo entre profissional de saúde e paciente, nem um acolhimento adequado. O ativista também criticou a disponibilização do teste de fluído oral em farmácias e o atual silêncio da mídia em relação à epidemia da AIDS.
Já o jovem ativista Remom Bortolozzi enfatizou a necessidade de unir pedagogia, história e cultura com o resgate da memória da epidemia e do ativismo cultural nas ações em resposta à epidemia do HIV/AIDS. Para Bortolozzi, o filme Cabaret Prevenção, da ABIA, que este ano está completando 20 anos, é um exemplo do ativismo cultural. O documentário, dirigido por Vagner de Almeida, terá exibição especial nesta quarta-feira (02/02), às 18h30, no auditório do 4º andar do Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB/RJ).