A última mesa do Seminário Dimensões Políticas e Sociais da Prevenção, organizado pela ABIA, tratou sobre a temática “Prevenindo as epidemias de significação”. Em um debate acalorado, os participantes da mesa refletiram sobre as dimensões do preconceito e do estigma na vida das pessoas vivendo com HIV e AIDS.
Gustavo Zambenedetti, professor da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), expôs os dados de uma pesquisa realizada para analisar o estigma e o preconceito com pessoas vivendo com HIV. Segundo Zambenedetti, o estigma se transforma ao longo dos anos e utiliza novas formas de atualizar o preconceito para gerenciar e limitar a vida das pessoas soropositivas. O pesquisador reforçou a necessidade de atualizar as estratégias de resistência para garantir a perspectiva dos direitos humanos. “Se o estigma se transforma, como recuperamos as tentativas de resistência?”, questionou.
Outra palestrante da mesa, Mônica Franch, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), tratou do tema na perspectiva da sorodiscordância. Franch analisou dados de pesquisas realizadas com casais sorodiscordantes, para discutir estigma e discriminação entre as relações onde um parceiro é positivo e o outro não. Também foram examinadas as formas de prevenção na dinâmica do casal, considerando a transição do discurso da imposição da camisinha até o conceito de prevenção combinada.
O representante do Programa das Nações Unidas para AIDS (UNAIDS), Cleiton Euzébio, mostrou como o estigma e a discriminação afetam diretamente a resposta ao HIV no Brasil e no mundo. Segundo os resultados analisados, fatores como criminalização da sexualidade e/ou do HIV associado ao medo da discriminação afastam as pessoas vivendo com HIV dos serviços de saúde. Apesar das novas tecnologias, Euzébio afirma que ainda há um longo caminho até a conscientização da população. “Apesar dos 30 anos de luta contra a epidemia, ainda há muita desinformação. Precisamos voltar para o básico”, analisou.
No encerramento do seminário, Richard Parker, diretor-presidente da ABIA, destacou que o evento deu ênfase à experiência de troca entre diversos setores sobre o HIV. Segundo Parker, os assuntos abordados permeiam a epidemia da AIDS desde o início, na década de 1980 e mostraram que é preciso resgatar a experiência do passado para relembrar a possibilidade de recuperação, mesmo em tempos de crise política. “A AIDS não acabou, a luta vai ser dura. Só temos que nos preparar para isso”, finalizou.
O Seminário Dimensões Socais e Políticas da Prevenção foi uma das atividades organizada pela ABIA no contexto do Dia Mundial de Luta Contra a AIDS, comemorado no dia 01/12.
Reportagem: Naíse Domingues (estagiária sob a supervisão de Angélica Basthi)
Edição: Angélica Basthi