Em plena crise sanitária causada pela Covid-19, a ABIA vem denunciar a ausência do tema da saúde pública entre os assuntos prioritários da atual agenda política do país. Restam menos de quatro meses para o Brasil decidir quem serão eleitos/as para os cargos de deputados estaduais e federais, senadores/as, governadores/as e quem vai ocupar a vaga do/a próximo/a presidente/a da República. Não há nada na agenda política sobre qual será a resposta para os impactos e agravamentos na saúde pública causados pela pandemia da Covid-19.
É estarrecedor constatar que, apesar de alguns programas partidários abordarem sobre o tema da saúde, nenhum candidato/a traga no discurso o debate sobre como retomar os investimentos emergenciais na saúde e aprimorar o Sistema Único de Saúde (SUS).
Enquanto os principais pré-candidatos para a presidência da República se envolvem numa polarização política que cheira a mais retrocessos, pessoas adoecem e vidas são perdidas. As instituições brasileiras corroboram o silêncio político sobre a crise sanitária, seus impactos e respostas possíveis.
Para nós, da ABIA, não há democracia sem a garantia do acesso digno à saúde. E a saúde pública brasileira pede socorro. Novos casos de Covid-19 seguem em crescimento no Brasil. Outros problemas da saúde pública como a epidemia da AIDS, se agravam e continuam sem uma resposta política efetiva.
Além dos poucos recursos disponibilizados para atender a todas as demandas no campo da saúde pública, o Brasil enfrenta o desabastecimento de medicamentos em várias regiões do país. Junto a isso, a indústria farmacêutica pratica preços exorbitantes e pouco avançamos no debate sobre a licença compulsória de insumos no enfrentamento da Covid-19.
Recentemente, o movimento nacional de AIDS esteve reunido no Ceará onde foi aprovado que cada representação presente no encontro apresentasse o tema da saúde como pauta prioritária para as candidaturas locais e regionais. Diante do silêncio na agenda eleitoral sobre a grave crise sanitária a Covid-19 instalada no Brasil, ativistas e organizações da sociedade civil organizada estão mobilizados para pressionar e exigir por respostas.
A ação do movimento social e da sociedade civil organizada é bem-vinda e necessária. Mas é preciso que toda a sociedade brasileira esteja mobilizada contra a força nefasta da necropolítica que está em curso no país. O Brasil deve urgentemente se alinhar à defesa da vida, da saúde plena e da garantia dos direitos humanos para todos e todas.
A epidemia da AIDS deixou muitas lições sobre o caminho para alcançarmos a justiça social, refazendo os laços comunitários e de solidariedade. É preciso dar um basta às mortes e aos danos evitáveis causados pela Covid-19. É preciso também dar um basta à violência letal protagonizada pelo Estado brasileiro que tem resultado, por exemplo, em chacinas policiais e assassinatos de homens negros.
A sociedade brasileira não quer civis armados para a guerra. O enfrentamento dos determinantes sociais da morte depende da reconstrução da defesa da vida. São estes os temas que precisam ser retomados no debate público num ano crucial para o futuro político do país.
Rio de Janeiro, 13 de junho de 2022
Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA)