A Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS encerrou na última quinta-feira (18/11) o ciclo de seminários da série “Respondendo ao estigma ao HIV no Brasil” realizado ao longo de 2021. Com o tema “Religião: estigma ou discriminação”, o cientista social Paulo Victor Lopes traçou um panorama histórico do papel da religião na produção estigma e discriminação e ao mesmo tempo, no acolhimento das pessoas que vivem com HIV/AIDS.
“A discriminação atravessou toda a sociedade, inclusive as religiões”, afirmou o vice-presidente da ABIA, Veriano Terto Jr. O diretor-presidente da instituição, Richard Parker, também reconheceu a complexidade da temática e lembrou que a ABIA tem pesquisado por anos o modo como diferentes religiões lidam com o tema do HIV/AIDS.
Para Parker, a condução dada por Lopes fechou com chave de outro o ciclo de seminários da instituição. “Sem dúvidas, fechamos esta sequência de seminários de maneira rica e instigante”, afirmou.
Segundo o cientista social Paulo Victor Lopes, um dos eixos fundantes da estigmatização da AIDS via religião é o pensamento de que o vírus está vinculado a uma ideia de concepção não natural e não sadia. Lopes mostrou, por exemplo, algumas das estratégias de setores da Igreja que ajudaram a estruturar o que classificou como processos de estigmatização. “Diziam na época que, se sexo é meio de transmissão, o correto é restringir a quantidade de parceiros. E em torno de grupos considerados desviantes, como gays e prostitutas, se reforçava a moral sexual, ou seja, a monogamia”, afirmou.
Ao mesmo tempo, o cientista social lembrou que as religiões também podem ser espaços de experimentação, apoio e conforto comunitários. “As religiões de matriz africana fizeram outro caminho. Mãe Beata e experiências como a Renafro são exemplos importantes na construção de respostas desestigmatizantes”, reforçou. Em relação aos setores progressistas das igrejas, Lopes considerou que apesar de terem adotado uma política de cuidados, esses setores permaneceram vinculados a lógica da moralização. “Foram ações importantes, mas no campo macro, esses setores continuam atuando para a não garantia de direitos via combate ao sexo desregrado”, disse Lopes.
No debate – que contou com a participação de Sônia Corrêa, co-fundadora do Observatório de Sexualidade e Política (SPW, sigla em inglês”, secretariado pela ABIA – Lopes disse considerar altamente relevante o surgimento de outras teologias para ampliar o diálogo sobre o HIV/AIDS. “O surgimento das teologias negras, feministas e queer que têm repensado e reestruturado a afirmação teológica a partir da noção dos oprimidos e subalternos abre um campo interessante para o diálogo sobre HIV/AIDS”, afirmou Lopes.
O workshop “Religião: estigma ou emancipação” está disponível na íntegra no YouTube da ABIA.
Acesso o resumo desta oficina aqui
Reportagem: Angélica Basthi (ABIA)