A ABIA fez mais uma valiosa contribuição na formação em prevenção combinada oferecida pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) para profissionais e gestores de saúde. Coordenado pela Gerência de IST/AIDS/HV, o curso teve como propósito capacitar profissionais de saúde das Gerências Municipais de AIDS, da Atenção Primária, de CTA (Centro de Testagem e Acolhimento) e de Consultórios na Rua da Baixada Fluminense e outras regiões metropolitanas.
Esta é a segunda participação da ABIA na formação oferecida pela SES-RJ (a primeira aconteceu no mês de julho). Desta vez, a instituição foi novamente representada por Richard Parker, diretor-presidente da instituição, Vagner de Almeida, coordenador do Projeto Diversidade Sexual de Direitos entre Jovens e Juan Carlos Raxach, coordenador da área de Promoção da Saúde e Prevenção da ABIA.
Richard Parker tratou sobre prevenção, do sexo mais seguro e outros determinantes da epidemia de HIV/AIDS. “O exercício da solidariedade sempre foi um dos caminhos para o HIV/AID. O estigma é muito grande, sempre foi, e sem solidariedade não é possível que isso se reduza”, afirmou. O diretor-presidente da ABIA também ressaltou que o conceito da pedagogia da prevenção é um dos principais mecanismos para o enfrentamento da síndrome. “A pedagogia da prevenção valoriza as abordagens das comunidades mais afetadas e suas estruturas comportamentais e estruturais. Estas precisam ser levadas em conta para criar uma mudança na forma que as pessoas fazem o sexo. O conceito de sexo seguro, por exemplo, não foi inventado pelos médicos, mas sim pelas comunidades de base”, disse Parker.
Segundo Parker, a prevenção combinada antes de mais nada é um projeto político. Ou seja, é uma tentativa de resgatar alternativas à forte biomedicalização da epidemia. Isso porque a chamada “educação bancária já não dá mais certo. Esse é um pouco do trabalho e do desafio da ABIA: criar uma educação, uma pedagogia mais acessível às pessoas, reconhecendo suas complexidades e oferecendo possibilidades de adequarem sua vida sexual na melhor forma de prevenção possível”, afirmou.
Parker também enfatizou que a superação do desperdício da experiência e o retorno às raízes do sucesso brasileiro na resposta à epidemia são alguns dos desafios que precisam ser enfrentados hoje no país. “Luta política, mobilização comunitária e a defesa incansável dos direitos humanos são nossos alicerces”, frisou.
Já Juan Carlos Raxach iniciou a conversa compartilhando a sua vivência pessoal como médico e soropositivo. Em seguida, aplicou a dinâmica do Rio da Vida – Rio das Prevenções – para dar continuidade ao tema da pedagogia da prevenção. “Em cada parte desse Rio existem momentos diferentes. Tem as questões médicas, comportamentais e estruturais. É o que chamamos de uma caixa de ferramentas, onde diversos métodos relacionam-se e podem ser usados conforme sua vida sexual”, pontuou.
Raxach também lembrou que o percurso do rio – da nascente até a maior afluência – tem diversos caminhos. E destacou alguns métodos e práticas simbolizadas no Rio das Prevenções, tais como abstinência sexual, sexo seguro, camisinha masculina e redução de danos, PrEP, entre outros. “O Rio das Prevenções é uma nova proposta metodológiga para avaliarmos todo esse conhecimento. Podemos adaptar a estrutura para criarmos o Rio da Sexualidade”, explicou Raxach, acrescentando que “ a partir de métodos já disponíveis e possíveis a pessoa pode inventar a sua própria caixinha, conforme suas práticas sexuais. É um aprendizado baseado na livre escolha do indivíduo”.
Sexo Mais Seguro
Coube a Vagner de Almeida apresentar a metodologia do Guia de Sexo Mais Seguro, lançado recentemente pela ABIA. A instituição preparou módulos específicos para as populações mais afetadas pela epidemia do HIV e AIDS tais como homens que fazem sexo com outros homens (HSH), mulheres cisgêneras e mulheres travestis e transexuais. “Nosso próximo módulo específico será destinado aos homens trans. E, o mais importante desse trabalho, é a ousadia e a capacidade de falarmos de sexo mais seguro e sexualidade de forma aberta, franca e acessível. A proibição de falar sobre sexo leva a situações catastróficas”, alertou.
Almeida enfatizou ainda que toda a linguagem, construção textual e visual (fotos e ilustrações) dos módulos contaram com a colaboração de voluntários (as). “É um guia para todos nós. Queremos alcançar aquelas pessoas que não tem entendimento acessível para absorver isso. E que também possam multiplicar esse conhecimento”, frisou. Além das publicações impressas, o material também está disponível online do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens. “Ter um material deste online nos permite incluir novas e diversas terminologias. É algo dinâmico e progressivo, móvel onde cada pessoa pode colaborar para enriquecer nosso linguajar”.
Fonte: Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens