Durante a abertura da assembleia da Articulação Nacional de Luta contra AIDS (ANAIDS) Richard Parker, diretor-presidente da ABIA, falou sobre o contexto político e seu impacto na epidemia de AIDS. Parker analisou ainda a situação do Brasil no campo da prevenção e constatou a estagnação do país em relação às políticas de prevenção. e acordo com ele, há uma forte estagnação em relação às políticas de prevenção que tem gerado um dos piores momentos da resposta à epidemia. “Desde os anos 1980 este é o pior momento que se vive na luta contra a AIDS no Brasil”, afirmou. A ABIA é membro da secretaria política da ANAIDS desde 2015, representada por Veriano Terto Jr.
A assembleia contou com a participação de representantes de 13 estados brasileiros. Um dos objetivos do encontro foi articular o movimento e estabelecer uma agenda prioritária para o segundo semestre deste ano. Os presentes também debateram sobre como será a participação da ANAIDS no 11º Congresso Brasileiro de HIV/AIDS, em setembro. Um dos resultados do encontro foi a agenda de mobilização nacional para denunciar o descaso que tem sido dado à epidemia de AIDS em 9 de agosto, dia dos 20 anos do falecimento de Herbert de Souza, o Betinho, fundador da ABIA .Confira reportagem da Agência de Notícias de AIDS sobre o encontro:
“Desde os anos 1980 este é o pior momento que se vive na luta contra a aids no Brasil”, diz presidente da ABIA
Iniciou na tarde dessa quinta-feira (13), em São Paulo, a assembleia anual da Anaids (Articulação de Luta contra a Aids), reunindo membros de fóruns, movimentos e de espaço de representação de 15 estados. A abertura teve a participação do professor Richard Parker, presidente da ABIA (Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids), do Rio de Janeiro, que falou sobre o contexto político brasileiro e o impacto na epidemia de aids. Segundo ele, “desde os anos 1980 este é o pior momento que se vive na luta contra a aids no Brasil”. Ao analisar o contexto nacional Parker faz a relação com a prolongada crise financeira internacional, de mais de dez anos, que, “continua e não mostra sinais de mudança.”
Em relação a prevenção, o professor foi enfático ao afirmar que o Brasil avançou até o início dos anos 2000, superando muitos países, mas “hoje paramos no tempo, ficamos no mantra da camisinha, quase não existem espaços de discussão de como fazer coisas novas na prevenção.” Para isto alerta sobre a necessidade de se voltar a uma pedagogia da prevenção, trazendo as pessoas como sujeitos deste processo, e na construção de alternativas.
As provocações resultaram em diversas reações da plenária. O pesquisador Jorge Beloqui, do GIV (Grupo de Incentivo a Vida), chamou a atenção para os níveis de mortalidade por aids no Brasil (12 a 15 mil por ano), e destacou a não existência de uma meta nacional para este item. Moyses Toniolo, da RNP+ (Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids) da Bahia, analisou a desmotivação e o inconformismo que atinge os militantes em suas bases. Tal realidade o faz pensar que “não haverá avanços em curto prazo, especialmente quando se vê a fragmentação do movimento, com ênfase nos personalismos.” Já Carla Almeida, do Gapa Rio Grande do Sul, destacou a necessidade de aumento da presença de mulheres em avançar nestes espaços. Ela trouxe uma reflexão sobre a existência de discursos binários e cartesianos e a necessidade de se desconstruir isto e buscar uma identidade do movimento. Para ela, “a falta de presença na mídia se alicerça na invisibilidade da aids e está no descompromisso da gestão e na indiferença da sociedade, é preciso romper isto.”
Avaliação em espaços
Na sequência os representantes nos diversos espaços de articulação, fizeram avaliação destes lugares. O primeiro a ser avaliado foi o GT Unaids. Os ativistas Jorge Beloqui e Américo Nunes relataram a participação, levantando pontos discutidos e avaliando criticamente as reuniões.
Aspectos importantes como o monitoramento da Carta de Paris, o apoio do Unaids para que se incluam nas metas de saúde outros pontos como a mortalidade e a ampliação do GT como espaço de diálogo entre ativistas, agências e gestores foram alguns pontos levantados.
Também Claudio Pereira, membro da Cnaids, relatou as discussões ocorridas sobre financiamentos da sociedade civil. As articulações neste espaço, sugeriu Moyses Toniolo, deveriam estar sintonizadas com o Conselho Nacional de Saúde que tem poder “inclusive de revisão de portarias.”
O professor Veriano Terto, representante da Anaids na Comissão Nacional de Aids (Cnaids), expôs a argumentação levada a este espaço sobre as formas de financiamento de eventos e ações e o questionamento sobre as participação das agências nestes processos, considerada por ele “muitas vezes radical e dogmática.”
A assembléia da Anaids continua nesta sexta-feira (14), no auditório do Sinsprev, quando serão debatidas questões relacionadas aos encontros regionais e nacional da aids e definidos os desafios do movimento na conjuntura de agenda prioritária para o movimento.
Fonte: Agência de Notícias da AIDS