Herbert Daniel foi o grande homenageado da noite desta quinta-feira (6/12) no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB/RJ). Durante o Debate sobre a Quarta Década da Epidemia de HIV e AIDS, organizado pela ABIA, o legado de Daniel foi celebrado como um dos marcos para lidar com os desafios da resposta à AIDS no país.
A conversa contou com as participações de Richard Parker e Veriano Terto Jr., respectivamente diretor-presidente e vice-presidente da ABIA, e de Georgiana Braga-Orillard, diretora do UNAIDS no Brasil.
A habilidade de Daniel para criar conceitos – como o de morte civil e solidariedade – e a sua coragem de afirmar a sexualidade e o corpo como temas políticos nos primeiros anos da epidemia foram exemplares. “As campanhas da época eram terroristas e o soropositivo considerado um corpo morto. O conceito de morte civil criado foi fundamental para o tratamento”, lembrou Terto Jr. Já a diretora do UNAIDS no Brasil destacou a necessidade de olhar experiências do passado para reaplicá-las nos dias atuais. “Hoje a juventude já nasce com o acesso à informação, mas não sabe lidar com ela. Embora a epidemia seja diferente para eles, enfrentam os desafios do passado que persistem até hoje como o estigma e a discriminação”, questionou Orillard.
Emoção
Bastante emocionado, Richard Parker revelou o quanto a amizade com Daniel foi marcante na sua vida. “Eu trabalho com o tema da AIDS desde 1982, mas conheci o Daniel em 1985. Sempre falávamos da necessidade de construir uma resposta política à epidemia. Foi ele quem me convenceu que havia muita coisa a ser feita e, sem dúvida, ele tem muito a ver com a minha decisão de voltar ao Brasil e decidir morar aqui”, disse.
Parker também relembrou como ele e Daniel decidiram escrever o livro “Aids: a terceira epidemia”, cuja reedição foi apresentada nesta quinta-feira junto com “Vida antes da morte/Life before death”. “Ele havia recebido o convite para escrever sobre a terceira epidemia, mas já doente e preocupado, me pediu para assumir a tarefa. Consegui convencê-lo a escrevermos juntos e então tivemos a ideia de fazer um livro mais extenso sobre o estigma e a discriminação, incluindo o tema da sexualidade e mostrando como a valorização do amor ainda é a melhor maneira de responder a tudo isso”, afirmou.
O diretor-presidente da ABIA finalizou a sua participação relembrando a importância de Herbert Daniel no atual momento político. “Hoje ouvimos pessoas elogiando torturadores e assassinos como se fosse algo natural. É neste momento tão delicado que nós, da ABIA, temos o prazer de reeditar um autor que lutou em defesa da democracia, tão essencial para a resposta à AIDS. Sem a democracia, não há futuro”, concluiu. Ao final do debate, foram distribuídos os livros “Vida antes da morte/Life before death” e“Aids: a terceira epidemia”, ambos de Herbert Daniel, sendo que este último assinado com Richard Parker. Em seguida, Parker iniciou a sessão de autógrafos.
A ação contou com o apoio do UNAIDS.