Julho 2015
Em 1996, a comunidade global que luta contra o HIV se reuniu em Vancouver para compartilhar evidências de que a combinação de três drogas antirretrovirais ajudava a reduzir o número de mortes por AIDS. A era do tratamento estava começando. Hoje [2015], reunidos outra vez em Vancouver, reconhecemos um novo momento transformado na luta para erradicar a AIDS.
Construído com base no conhecimento acumulado durante a última década, o estudo START produziu seus primeiros resultados mostrando que, ao invés de esperar a deterioração do sistema imunológico, o início imediato do tratamento antirretroviral (TARV) mais que dobra as chances de sobrevivência e de vida saudável dos portadores do HIV. A oferta imediata de acesso ao TARV é ainda apoiada por outros estudos que mostram que os antirretrovirais podem evitar a transmissão do vírus de pessoas vivendo com o HIV para seus parceiros HIV negativos. Os dados também mostram que os antirretrovirais podem proteger eficazmente as pessoas do risco de infecção por meio do uso profilático.
A evidência médica é clara: todas as pessoas que vivem com o HIV devem ter acesso ao tratamento antirretroviral a partir do momento do diagnóstico. As barreiras legais e políticas, bem como aquelas impostas pelo preconceito, devem ser confrontadas e desmontadas. Como parte do esforço de prevenção, a profilaxia pré-exposição (PrEP) deve estar disponível para proteger os que estão em maior risco de contrair o HIV. O uso estratégico dos antirretrovirais – através do tratamento e de outros usos preventivos – pode salvar milhões de vidas e nos aproximar rapidamente do objetivo de alcançar o fim da epidemia. Chegamos a uma nova era de oportunidades contra a epidemia e devemos aproveitá-la.
Esses avanços científicos vêm acompanhados do alcance de um objetivo considerado inatingível: 15 milhões de pessoas em todo o mundo estão recebendo tratamento antirretroviral e oito milhões de mortes foram evitadas desde 2000 graças ao ativismo global, à vontade política e à ciência. É hora de alcançar os 60 por cento das pessoas com HIV que ainda não estão em tratamento, incluindo as 19 milhões de pessoas que não conhecem o seu status sorológico. Devemos garantir que a decisão de tomar os medicamentos antirretrovirais seja uma escolha individual e que todas as pessoas, independentemente da sua situação legal ou social, sua raça, gênero ou origem, tenham acesso efetivo ao tratamento e à prevenção. Reconhecendo que a medicina não pode trabalhar isoladamente e que os antirretrovirais por si sós não pode dar um fim à AIDS, torna-se urgente uma resposta comunitária e abrangente voltada para os grupos mais vulneráveis.
O mundo deve agir rapidamente para reduzir a incidência do HIV, as mortes relacionadas à AIDS e os custos a longo prazo. Ainda estamos seriamente preocupados com a escassez de recursos para a resposta global à AIDS e com a falta frequente de acesso ao tratamento. Apenas 10 países adotaram formalmente medidas para fornecer tratamento imediato a todas as pessoas diagnosticadas com o HIV. Anos após o lançamento das diretrizes da Organização Mundial da Saúde para iniciar o tratamento de pessoas com CD4 abaixo de 500, muitos países ainda não adotaram essas recomendações. Atrasos na sua adoção não apenas ameaçam milhões de vidas, mas também podem causar o ressurgimento dessa pandemia.
Apelamos aos líderes de todo o mundo para que apoiem a implementação da ciência em HIV e que se comprometam em dar acesso imediato ao tratamento a todas as pessoas vivendo com HIV. Fazemos um chamado aos doadores e governos para que usem os recursos existentes de forma a alcançar o máximo de impacto que mobilizem recursos suficientes no nível global para apoiar o acesso universal ao TARV, o alcance da meta 90/90/90 estabelecida pela ONU para a testagem, tratamento e adesão, e a resposta global ao HIV. Pedimos aos médicos que construam modelos de cuidados que vão além da clínica para alcançar todos os que querem e precisam de antirretrovirais. Apelamos à sociedade civil para que se mobilize em apoio ao direito de acesso imediato ao tratamento para todos.
A ciência já forneceu as soluções. A questão para o mundo é: quando nós as colocaremos em prática?
Tradução livre, gentilmente cedida por Beto Luz (A hora é agora)