A Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) repudia veementemente qualquer tentativa de manipular, confundir e omitir os dados sobre a COVID-19 feita pelo Ministério da Saúde e se soma às muitas vozes que já se mostraram contrárias por meio de críticas contundentes a esta omissão.
Confiamos no exímio trabalho que tem sido feito pela imprensa brasileira que, mesmo diante deste ato infame, já anunciou que vai unir os esforços num consórcio de veículos de comunicação para manter a informação de qualidade em circulação.
Ignorar informações científicas e as orientações sanitárias colocou o país como novo epicentro desta pandemia global. Maquiar dados, censurar fatos e menosprezar as mortes e o sofrimento de milhares de brasileiros é, sem dúvida, o pior desastre já alcançado no Brasil pela falta de liderança política no enfrentamento da COVID-19.
Nós, movimento social, organizações não-governamentais e outros setores comprometidos com a resposta à epidemia do HIV/AIDS, já testemunhamos problemas de subnotificação e sabemos o preço a ser pago quando dados epidemiológicos são manipulados para fins políticos.
O povo brasileiro exige respeito. É inaceitável que autoridades públicas continuem a ridicularizar o país, colocar em cheque a reputação de um órgão federal como o Ministério da Saúde e pôr em risco a saúde da população brasileira.
O silêncio que o governo federal tentar impor à sociedade é a face da desumanização em uma de suas formas mais cruéis. Muitas das vítimas da COVID-19 já são mortos civis, sem direito ao trabalho digno, à educação e ao acesso ao bem-estar social.
Para nós, da ABIA, a tentativa de manipular os números, apagá-los e assim apagar também a memória, o luto e a cidadania daqueles que morreram é expressão do fascismo e reedita o triste slogan da AIDS, formulado nos anos 1980 pela ONG internacional Act up: Silêncio=Morte.
Rio de Janeiro, 9 de junho de 2020
Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS