Com o objetivo de analisar o impacto da Covid-19 nas políticas de AIDS e tuberculose no Brasil, uma pesquisa protagonizada por diversos segmentos da sociedade civil, levantou a realidade de estados e municípios em relação a diagnóstico, tratamento e ações voltadas para populações vulneráveis. Os dados preliminares foram divulgados nesta quinta-feira, 4 de junho.
A coleta dos dados foi realizada entre os dias 28 de abril e 10 de maio deste ano. No total foi 69 respondentes, sendo 40 coordenadores de politicas de HIV e AIDS e 39 coordenadores de políticas de tuberculose.
Dividida em três fases o levantamento quantitativo entrevistou gestores estaduais e municipais, em outras duas etapas serão ouvidos usuários dos serviços e profissionais de saúde. Segundo Carla Almeida, coordenadora da pesquisa, os primeiros dados mostram uma diminuição de 40% da equipe técnica dos programas de HIV/AIDS, também a oferta de Prep (Profilaxia pré-exposição) foi reduzida em 35% nos locais pesquisados e igualmente 35% das consultas periódicas não foram mantidas mas substituídas por ações pontuais com estratégias de não deslocamento. Também se percebe uma redução de 42% equipe técnica dos serviço de tuberculose e a diminuição de oferta de consultas. Veja mais detalhes:
- 72% dos entrevistados atestam que não houve alteração no recurso destinado às políticas de HIV/AIDS de 2020. No entanto, frisam que o recurso já está congelado há alguns anos.
- 20% dos gestores de HIV e Aids relatam que não tem qualquer informação sobre os recursos financeiros destinados às políticas de combate ao HIV.
- E 8% relatam que não houve redução na oferta dos serviços. Também é 8% o número de gestores que não sabem se a rotina de exames das pessoas que vivem com HIV estão sendo mantidas.
- 20% afirmam que essa rotina não foi mantida durante a pandemia.
- 13% não aderiram a recomendação da distribuição de antirretrovirais por 90 dias, como recomendado pelo Ministério da Saúde, por problemas com logística e estoque de medicamentos.
Por meio da pesquisa, os gestores também relatam que apesar de os serviços de PEP estarem funcionando em 90% dos serviços, o fornecimento da PrEP foi fortemente impactado. Isso fica evidente já que 35% dos gestores relatam redução nos serviços da profilaxia pré exposição e 25% dos gestores sequer sabem como os serviços estão operando neste período.
“Infelizmente a pauta da Covid-19 vem atropelando e muito as ações voltadas ao HIV, aids e tuberculose, mas temos que ficar atentos, monitorando e dialogando com os serviços e as equipes de saúde da família para que as ações sejam ofertadas apesar da pandemia”, disse Carla.
Tuberculose
Quando se investiga quais exames estão sendo mantidos na rede, apenas 61% mantêm o teste molecular, baciloscopia e exame de cultura. Segundo Carla, “para além dos impactos da epidemia de Covid-19 na rede laboratorial, falta de manutenção de equipamentos, de insumos e de profissionais também são impedimentos para realização de exames de diagnóstico”.
Alguns dos serviços relatam problemas sérios quanto ao diagnóstico laboratorial. “O laboratório municipal parou de fazer baciloscopia para atender os casos de Covid. Não temos cultura. Equipamento sem manutenção só um módulo funcionando”, diz um dos relatos recebidos pelos pesquisadores.
Segundo 20% dos entrevistados, as consultas mensais dos pacientes em tratamento não estao sendo mantidas por conta das ações para o enfrentamento da Covid-19.
Nesse sentido, Carla mostra que apesar de os gestores apontarem a realização de ações direcionadas às populações específicas, ao se observar os números, o acesso de populações como privadas de liberdade (20%), imigrantes (25%) e indígenas (21%), fica aquém das expectativas.
A iniciativa conta com o apoio da Articulação Social Brasileira para o Enfrentamento da Tuberculose (Articulação TB/Brasil), Articulação Nacional de AIDS (Anaids), Comitê Comunitário de Acompanhamento de Pesquisas em tuberculose (CCAP TB/Brasil) e do segmento Sociedade Civil da Parceria Brasileira contra a Tuberculose.