Por Salvador Corrêa*
O vídeo da campanha do preservativo Olla causa polêmica na internet ao falar abertamente de sexualidade e carnaval. A campanha é bem simples e também ousada e traz a chamada “pegação carnavalesca” com prevenção o centro da mensagem.
Na campanha Pabllo Vittar, Cleo Pires e Lucas Lucco falam em múltipla parceria, prazer, pegação alinhados a respeito e sem preconceito.
“Todo mundo tem sim o direito de pegar quem quiser, onde quiser, e o melhor: quantos quiser.” Cléo Píres
A campanha está totalmente alinhada com clima de pegação presente no carnaval e defende a diversidade de expressão da sexualidade independente de orientação sexual.
Por que a valorização da prevenção, prazer e ousadia deveria despertar ódio, raiva e ataques em tantas pessoas, como visto nos comentários da campanha? Seria o fato da campanha falar tão abertamente de direitos sexuais? Por que a ousada campanha que já teve mais de 5 milhões de acesso em pouco mais de uma semana tem mais “dislike” (67,4%) – do que “like” (32,6%)?
É importante reconhecer que falar sobre sexualidade no contexto em que vivemos tem sido um desafio cada dia maior. O crescimento do conservadorismo limita as possibilidades de expressões da sexualidade humana. Basta lembrar dos inúmeros episódios de repressão à sexualidade que vivemos recentemente, inclusive perpetrada pelo próprio governo, como a censura de exposição, ou mesmo pela justiça com relação ao projeto de cura gay, e por aí vai. Forças conservadoras invisíveis e por vezes imperceptíveis permeiam diversas instituições, e muitas vezes são produzidas e reproduzidas sem que nos demos conta, até por nós mesmos – por vezes velada. As vezes tá num simples julgamento da roupa da colega.
A campanha também promove o respeito reforçando a importância do consentimento, como presente nas falas da Pabllo Vittar e do Lucas Lucco que, respectivamente, revelam: “O importante é haver consentimento de ambas as partes, viu?!” e “Use a sua ‘sedusência’. Aquela troca de olhar, aquela conversa no ouvido (…) Sem aquele puxão, sem machucar, com carinho.”
É claro que não faz necessário olhar os comentários da campanha ousada da Olla para entender o que está por trás de tanto ódio: o conservadorismo da sociedade brasileira que insiste em controlar a sexualidade alheia, projetando no outro os padrões irreais e inacessíveis para sexualidades.A utilização do espaço cibernético para expressão do conservadorismo é incoerente com os desejos e sexualidades expressados no carnaval. É preciso defender a vivência do carnaval e da pegação com prevenção – como foi bem descrita na campanha.
Falar abertamente de prevenção e do leque de possibilidadesde relacionamentos (incluindo aqui a pegação) é garantir o direito a livre expressão da sexualidade e dos direitos sexuais que todosdevem ter. Associar essa real diversidade a prevenção é abrir os olhos para a realidade que o país vive acerca do crescimento da epidemia de HIV e outras IST.
A promoção do uso da caminha na campanha da Olla é um exemplo que deveria ser seguido pelos nossos governantes ao promoverem o uso da camisinha. É ousada, e relembra as campanhas dos anos 80/90 – muitas vezes alinhadas aos direitos humanos das populações mais afetadas pela epidemia. Diga-se de passagem, momento em que o país foi um exemplo na resposta a AIDS exatamente por centralizar a resposta da epidemia nos direitos humanos. Que venham novas campanhas como essa! Mais prevenção para todas as formas de carnaval!
Assista vídeo da campanha do preservativo Olla
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*Salvador Corrêa é coordenador de treinamento e capacitação da ABIA