Nesta semana, véspera de 1 de dezembro, Dia Mundial de Luta contra a AIDS, a Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS foi procurada por um cidadão vivendo com HIV em busca de atenção médica em tempos de COVID. Ele não só nos contou o que estava passando para conseguir diagnóstico e tratamento para COVID na rede pública de saúde, como também descreve sua via crucis por diversas unidades de saúde da cidade do Rio de Janeiro. Resguardando o seu nome, ele autorizou a ABIA publicar seu relato com o intuito de expor e refletir sobre o sofrimento coletivo que a população carioca em geral, está vivendo na procura de diagnóstico, assistência e tratamento para COVID-19, sendo ou não contemplado dentro dos chamados “grupos de risco”.
Esperamos que este relato contribua não somente para retratar a realidade da epidemia de COVID-19 em nossa cidade, mas também para sensibilizar e mobilizar a população e as autoridades competentes para exigir, elaborar e colocar em prática medidas para que este sofrimento não mais se repita. Mantivemos a grafia original do texto, como forma de reforçar a voz de quem fala. O cidadão em questão é estrangeiro, residente em nosso país, o que nos leva a mais uma preocupação com a situação das pessoas imigrantes, que também precisam ter garantido o seu direito à saúde e à vida, como qualquer cidadão.
Agradecemos a confiança em nós depositado pelo autor ao compartilhar a sua história e manifestamos nossa solidariedade a ele e a todas e todos cidadãs e cidadãos que lutam por sua saúde no Brasil.
“Resumo de mi día como COVIDOSO:
Vou RELATAR A MINHA ÁRDUA JORNADA TENTANDO SER ATENDIDO POR ter síntomas ESTABLECIDOS COMO DE covid Y ESTAR DENTRO DE LOS GRUPOS DE MÁS ALTO RIESGO: EXCESO DE PESO, DIABETES E PRESSÃO ALTA, ASSIM COMO POR ter MEU SISTEMA INMUNOLÓGICO COMPROMETIDO POR SER SEROPOSITIVO. Só um DELES, SUPUSE, LLEVARÍA A SER ATENDIDO COM ESPECIAL atenção. Más NÃO FOI ASSIM.
Inició todo nos primeiros dias da semana pasada, mas os sintomas apareceram sexta, sabado y domingo com febre e malestar geral. Exceso de cansanço.
Segunda fui ao upa taquara, por indicação médica, logo de comprobar pérdida do olfato.
Fui atendido até rápido. Pressão normal, oximetro 96, sem febre glicosis 135.
Fui revisado e de acuerdo à sintomatologia manifestada por mim à médica, ela sugirió posible caso de covid. Receitou dipirona, azitromicina, expectorante, ainda sem ter tosse, e un anti enjoo e antidiarreico, sem ter ate esse momento nenhum dos dois. Para ela, todo indicaba covid-19, mas recomendou fazer o teste para confirmar. Perguntei se ai faziam, mas, segundo ela, a upa nao faz. Falou para ir na clinica da familia, donde, segundo ela também, sim se faz. No posto do tanque me falaram que nao faziam. Perguntei se sabiam onde faziam e falaram que nao sabiam. Falta de informação total. Os pacientes com sospeita de covid nao são isolados todos ficam aguardando e são atendidos no mesmo local.
Comencé el medicamento. Fim dia um.
Dia dois. Por indicação médica me dirigi à upa da Tijuca, donde certamente faziam o teste. Fui atendido na entrada e apresentei meu quadro completo. Falei da solicitude da médica da upa tanque para fazer o PCR. Mas a menina ja foi falando que não se fazia o teste nessa upa. Na verdade, que nunca se tinha feito o teste nessa upa. Não entanto, fui mandado a aguardar o atendimento médico. Depois de quatro horas de espera, fui atendido, mas…novamente o médico me falou que lá não faziam o teste. Perguntei que se sabia onde faziam, sem referirme ao sus, e ela me falou que não tinha nem idea de onde o “sus” fazia o teste. Incluso preguntou a uma auxiliar se ela sabia, mas também não sabia.
Depois de um papo sobre meu problema, terminou falando que o teste só era feito em internados. Falei dos medicamentos receitados na upa da taquara. Ela não concordou com o antibiótico, mas considerou que já que tinha começado, tinha que terminar.
Sai de aí. Já era fim da tarde. Fui para o hupe, pois sou paciente de lá, e ainda que sei que nao tem emergencia, quis tentar sorte pois lembrei que eles faziam triagem para o covid e um amigo falou que tinha feito lá. Perguntei a um rapaz de informação que ficou, pois todos tinham ido embora, já eram mais das 5 da tarde, se lá faziam o teste. Falou que os testes estaban restrictos aos pacientes internados.
Voltei para meu bairro, jacarepagua, tanque, e procurei um centro médico, mas só faziam teste de sangue. Além de que eu tinha que pasar primeiro pelo médico para que ele confirmara o que a upa da taquara e a upa da tijuca tinham falado, para assim dar o encaminamento para fazer o teste de sangue do covid.
Depois fui a outro laboratorio (a+) onde falaram que só faziam o teste rápido. Tamben não tinham nem ideia de quem fazia o que eu procuraba.
Para terminar, fui ao hospital de clínicas de jpa, onde fazem só o teste rápido e também nao tem nem idea de onde faziam os outros.
Depois de um dia cansativo e pouco proveitoso, fiquei pensando nas palabras da médica que me atendeu na tijuca: “meu querido, fazer o não o teste não é relevante. É só para preencher uma estatística pública. Isso não tem cura. Você pode ter pegado qualquer covid mas numa versão suave. Recomendo reforzar os cuidados, tentar não sair, e se piora, vai ao médico”
Imagino que a piora tem que ser quando fique sem ar, quase morrendo.
Estou desolado.
Desorientado.
Como muitos que quizas, escutaram do médico o mesmo que eu escutei….
Em uma pandemia, já na sua segunda fase, ter centros de saúde desinformados é simplesmente angustiante. Todas as paredes cheias de informação. Mas a que precisei, ninguém tinha….
Deus nos proteja!”