Com um cardápio criativo (e fictício) composto por entrada, prato principal, sobremesa, cafezinho e vinho de harmonização, os cerca de 150 participantes do 1º SUSAids VIDDA – Encontro Nacional para Avaliar o Cuidado na Assistência e na Atenção à Saúde de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS, “degustaram” os sabores e dissabores numa rodada de debates sobre o Testar e Tratar; Cuidado, Acesso e Assistência Integrada em AIDS no SUS; Protagonismo, Equidade e Direitos Humanos no SUS e Vulnerabilidades e Coinfecções.
O 1º SUSAids VIDDA foi organizado pelo grupo Pela Vidda (RJ), em parceria com o Grupo de Apoio à Prevenção à AIDS (GAPA – RS), do Fórum de ONGs AIDS – RS. O evento, que acontece de 25/11 a 27/11 num hotel na Lapa (RJ), reúne ativistas, profissionais de saúde, gestores e pessoas vivendo e convivendo com o HIV de vários estados brasileiros, tais como Minas Gerais, São Paulo, Amazonas, Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, dentre outros.
No primeiro dia, o diretor-presidente da ABIA, Richard Parker, fez uma palestra de abertura sobre “O fim da AIDS?”, onde ressaltou que o mais importante neste título é o ponto de interrogação. Com base nisso, o diretor-presidente da ABIA fez três questionamentos: 1) Estamos próximos ao fim da AIDS?; 2) Estamos em uma nova era de respostas biomédicas, em substituição a respostas sociais e políticas? e 3) A resposta comunitária ainda importa?
Para Parker, os avanços na luta contra a epidemia são reais, mas é preciso reconhecer que ainda há um longo caminho a ser percorrido. “A maneira de apresentar a epidemia como algo já resolvido é falsa e quem sofre com isso são as comunidades mais afetadas”, ressaltou, acrescentando que a resposta comunitária deve retomar o lugar como instrumento orientador das respostas biomédicas e da formulação de políticas públicas: “são as pessoas que vivem com o HIV no cotidiano quem detém maior conhecimento sobre a epidemia e por isso é preciso resgatar o conhecimento e a legitimidade das comunidades mais afetadas na resposta à epidemia” afirmou.
Estamos entrando numa fria?
Durante o encontro, os/as participantes fizeram também rodas de debates sobre temas como: o que a ideia de testar e tratar muda no contexto da prevenção? A meta 90-90-90, projetada pelo Programa das Nações Unidas para a AIDS (UNAIDS) pode ser adequada à realidade brasileira?, dentre outros questionamentos.
Divididos em quatro grupos, os/as participantes aprofundaram sobre o que pensam ser o cuidado no contexto da resposta à epidemia do HIV e as problemáticas do cuidado oferecido nos serviços de saúde. A integralidade e o respeito foram palavras consensuadas no debate.
Sobre o programa Testar e Tratar, por exemplo, surgiram preocupações sobre as estratégias de testagem sem um esforço de diálogo mais amplo com a sociedade civil. Para os/as participantes, falta treinamento entre os/as profissionais. Além disso, é preciso fomentar o acesso ao conhecimento de modo que as pessoas possam fazer as escolhas sobre o melhor método preventivo.
Para o ativista José Luiz, “não podemos passar do velho para o novo, se não estruturarmos o primeiro”, afirmou, referindo-se ao atual sistema de atendimento e o testar e tratar no país.
No último dia, os participantes fizeram uma mobilização (foto), seguido de um apitaço nos Arcos da Lapa (Centro, RJ) com faixas de denúncias sobre a precariedade do SUS e a situação agravante da epidemia no país.
Os organizadores informam que, em breve, será produzido um documento sobre o encontro.