A Câmara dos Vereadores do Município do Rio de Janeiro lançou a “Frente Parlamentar de Combate ao HIV/AIDS, o Preconceito e o Estigma” para incidir de forma avaliativa e qualitativa sobre o contexto da epidemia de HIV e AIDS no município. A iniciativa foi do mandato coletivo do vereador David Miranda (PSOL-RJ) e contou com a participação de ativistas, especialistas e representantes municipais.
Na sessão de abertura oficial da Frente Parlamentar, o coordenador geral do Grupo Pela Vidda RJ, Márcio Villard, lembrou que o Rio de Janeiro ocupa o sétimo lugar de incidência em HIV/AIDS nos jovens até 21 anos no país, sendo a maior concentração entre 15 e 19 anos. “Eu espero que o RJ recupere sua política de prevenção, as campanhas e as ações com foco no combate ao estigma e ao preconceito.Hoje assistimos mais preconceito do que nos anos 1980 e 1990 seja por meio do olhar, dos comentários e/ou memes na internet”, afirmou. Segundo ele, nos anos 1980, era mais comum a produção de materiais tais como os do Grupo Atobá e da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA).
Já a advogada Maria Eduarda chamou a atenção para a dificuldade dos usuários no acesso aos antirretrovirais no estado e no município. “O fracionamento (de medicamentos) é irregular e por isso pedimos que a Frente, bem como já solicitamos ao Ministério Público, fiscalize. O usuário de saúde não pode ficar sofrendo com os efeitos da falta de comunicação dos gestores. Está lá na lei 9313 (13 de novembro de 1996): toda pessoa tem o direito gratuito e universal de medicamento antirretroviral assegurado”, explicou.
Juventude
O jovem ativista Walter Sabino lembrou que é preciso trazer a transmissão vertical para o debate “já que muitos jovens descobrem a sorologia adquirida via vertical (quando ocorre de mãe para o filho ao nascer ou durante a amamentação) na adolescência, período em que a pessoa descobre o mundo, a sexualidade… e ainda terá que lidar com a sorologia”, questionou. Para ele, é também fundamental dar visibilidade à recente descoberta “Indetectável = Intransmissível” (uma pessoa soropositiva com baixa carga viral não transmite o HIV, mesmo durante o ato sexual sem o uso de preservativo e com uma boa adesão ao tratamento).
Já a médica Márcia Rachid destacou a sua experiência no atendimento às pessoas que vivem com o HIV para chamar a atenção da importância da prevenção: “Eu atendo pacientes com o vírus desde 1982 e investimento em prevenção, desde lá, foi uma forma de ajudar no tratamento. E eu tenho pacientes com 30 anos de sorologia. Então eu acho que a prevenção ficou de lado, deixou de salvar vidas. Era muito difícil perder pessoas como eu vi e ainda é até hoje. Então hoje quando se pensa em prevenção combinada é um ganho: é pensar em PEP, PrEP, vacinas, camisinha. Diferente do que foi a prevenção há 30 anos atrás e diferente do que é a juventude hoje com rede social, com outra forma de vida, com outros contextos de epidemia e comportamento”, afirmou Rachid.
A ABIA esteve representada no lançamento da “Frente Parlamentar de Combate ao HIV/AIDS, o Preconceito e o Estigma” por Jean Pierry Oliveira e Jéssica Marinho, ambos assistentes do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens; Salvador Correa, coordenador da área de capacitação institucional; e Clara Alves, assistente de projeto do Grupo de Trabalho sobre Propriedade Intelectual (GTPI), coordenado pela ABIA.
Fonte: Projeto Diversidade Sexual Saúde e Direitos entre Jovens/ABIA