O Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo (USP) e a Brazil LAB Princeton University organizaram um webinar com reflexões sobre os determinantes políticos subjacentes ao curso da pandemia da COVID-19, com foco no Brasil e na natureza mutável das respostas de saúde global.
O encontro virtual contou com a participação do diretor-presidente da ABIA e professor emérito da Mailman School of Public Health, na Universidade de Columbia, Richard Parker; de João Biehl, diretor do LAB Brasil e professor titular de antropologia na Princeton University; e de Deisy Ventura, professora titular da Escola de Saúde Pública, na Universidade de São Paulo (USP). O evento foi moderado por José Ricardo Ayres e Nelson Gouveia, professores titulares da Faculdade de Medicina da USP.
Na ocasião, Parker salientou que a saúde global ão vai ser a mesma depois da COVID-19. Para ele, foi a pandemia da AIDS que abriu caminho para a percepção da importância dos determinantes estruturais da saúde. Um exemplo disso ocorreu nos anos 1990 com a mudança do conceito de comportamento de risco para o de vulnerabilidade. “Por trás dos comportamentos ‘irracionais’ aprendemos que há forças estruturais de classe, gênero e raça que alimentam processos de opressão e produzem desigualdades”, afirmou.
Parker e os demais palestrantes também destacaram que em meio aos danos causados à saúde, à economia e à política, o país também tem sido obrigado a enfrentar impacto mortal do declínio ambiental, a fragilidade absoluta dos sistemas preventivos e as formas enraizadas de violência estrutural que exacerbam a vulnerabilidade, as taxas de mortalidade, e as disparidades nos cuidados de saúde. Intimamente ligada às decisões políticas e aos interesses do mercado, a COVID-19 continua a se espalhar e a matar de forma desigual de acordo com a idade, classe, raça, sexo e moradia.
Após as reflexões, foi aberto o debate com o público e os palestrantes discutiram formas de maximizar a influência de atores multilaterais da saúde global, bem como o papel das ciências sociais em iluminar formas de contra-política e a sabedoria cultural de comunidades vulneráveis. Como diz o líder indígena, ambientalista e escritor brasileiro Ailton Krenak: “Temos de deixar de vender o nosso amanhã”.
Com informações da Brazil Lab Princeton University