Representantes do movimento AIDS, jovens, líderes comunitários e público geral estiverem presentes na sede da ABIA, no Centro (RJ), para o “Seminário Ativismo Cultural, HIV e AIDS”. O objetivo foi discutir as perspectivas e possibilidades do ativismo cultural na abordagem da sexualidade, saúde e prevenção do HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), com destaque para a população jovem gay e HsH (homens que fazem sexo com homens).
A mesa de abertura contou com as participações de Richard Parker,diretor-presidente, e Veriano Terto Jr., vice-presidente e Vagner de Almeida, coordenador do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens. A mesa foi mediada pelo jornalista e coordenadora de comunicação da ABIA, Angélica Basthi. O seminário foi transmitido ao vivo via Facebook.
Responsável pela organização do evento, Vagner de Almeida, relembrou como nasceu o projeto criado em 1993 com o nome “Projeto HsH” – atualmente identificado como Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens. “Nós sempre apostamos no desenvolvimento da arte e da cultura como estratégias de prevenção”, disse Almeida. Neste período, a ABIA produziu filmes, peças de teatro e atividades culturais nas ruas e nos tradicionais redutos homossexuais da cidade do Rio de Janeiro.
Silêncio = Morte
Sobre o seminário, Almeida destacou a importância de criar e compartilhar novos saberes. “Estamos hoje aqui reunidos para compartilhar estratégias e abordar a sexualidade de uma maneira mais leve e mais eficaz! Precisamos criar e levar para nossas casas, novos saberes, novas informações e novas formas de levar a informação a quem não tem o acesso a esse conhecimento” afirmou.
Já Richard Parker e Veriano Terto Jr. expuseram sobre a história do ativismo cultural nestes quase 40 anos de epidemia do HIV e AIDS. Parker, por exemplo, relembrou o papel dos movimentos sociais, sobretudo o movimento LGBT, no enfrentamento ao estigma, na luta por direitos e na demanda por ações governamentais do poder público.
“No início da epidemia, a ciência pouco podia fazer em relação à prevenção do HIV e da AIDS. Logo percebeu-se que a cultura tinha uma força poderosa neste âmbito. A frase que ficou consagrada nos anos 1980 “Silence=Death” (Silêncio=Morte) foi uma das máximas do ativismo cultural daquele período. Era preciso falar, gritar, agir diante do silêncio que a sociedade tentava impor às populações afetadas”, contextualizou Parker.
Terto Jr. lembrou das oficinas sobre sexualidade e prevenção que acontecia nas grandes empresas ao redor do país. “A ABIA fez muitas oficinas em empresas sobre sexo seguro e prevenção, usávamos muito fotos pornográficas para falar sobre prevenção. Tenho dúvidas se hoje a gente conseguiria repetir isso neste cenário tão conservador. Daí que este seminário e o lançamento do guia do sexo seguro serem tão relevantes no contexto atual”, pontuou Veriano.
Estigma
Um dos painéis que mais gerou debate entre os presentes e os internautas foi a mesa “Protagonismo Jovem e HIV/AIDS” que contou com a participação dos ativistas Jean Vinicius, da Rede Nacional de Jovens Vivendo e Convivendo com o HIV, e Leticia Cabral, da Rede Jovem Rio+. Os jovens abordaram questões como o estigma, culpabilização e as formas de resistência face à epidemia: “O HIV anula as identidades, as subjetividades. Você deixa de ser você para ser um “soropositivo”. Mas nós não vamos deixar o HIV limitar quem nós somos…Precisamos trazer narrativas que tragam informação e prevenção sem estigmatizar os grupos afetados”, afirmou Jean Vinicius.
Ao longo de toda tarde, foram debatidos vários temas desde políticas de prevenção e acesso ao tratamento do HIV e da AIDS até como combater o racismo e a transfobia, estimular a participação jovem, e compreender as novas dinâmicas dos movimentos sociais e de mobilização por meio do ativismo cultural.
Guia sexo seguro
No final do seminário, aconteceu o lançamento da versão online do “Guia do Sexo Mais Seguro – um guia sobre sexo, prazer e saúde no Século 21”. O material é a incorporar novas tecnologias biomédicas de prevenção, como a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP). Além da prevenção do HIV, o guia oferece informações sobre como se prevenir de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) como a sífilis e gonorreia; e das hepatites virais.
Foi lançada também uma versão impressa e resumida do material. “Este primeiro módulo impresso é focado na prevenção entre jovens gays e homens que fazem sexo com homens (HsH) mas iremos também lançar as versões para mulheres cis, mulheres trans e homens trans”, explicou Vagner de Almeida. “Com esse guia, a ABIA reforça a valorização de uma abordagem bastante aberta sobre a sexualidade. Não dá para falar de AIDS sem falar de sexo! Se vamos enfrentar a epidemia do HIV/AIDS precisamos dialogar com as pessoas sobre saúde e sexualidade de uma maneira que valorize as diversas comunidades e identidades que temos hoje na sociedade ”, disse Richard Parker.
A assessora parlamentar e representante do Fórum Estadual de Travesti e Transexuais (RJ), Wescla Vasconcelos, destacou a importância do seminário: “Este seminário é um dos caminhos que precisamos seguir. É em mobilizações como esta que as[imos mais fortalecidas, para encarar a luta lá fora, para resistir e bater de frente com todo esse ódio que temos visto na sociedade”, comentou. Leonardo Aprígio, coordenador de Acolhimento da Rede Rio Jovem +, também aprovou o debate: “ativismo cultural é isso é sair de um ambiente como esse e levar a informação daqui, ampliar essa informação e não deixar que ela fique restrita em espaços como esse” reforçou.
Acesse a versão completa do “Guia do Sexo Mais Seguro – um guia sobre sexo, prazer e saúde no Século 21” aqui.
Reportagem: Maria Lucia Meira, estagiária sob a supervisão da jornalista Angélica Basthi