A comemoração dos 20 anos do Fórum das ONG/Aids do Estado de São Paulo (Foaesp) acontece através do Seminário “Os Desafios da Prevenção para o HIV no Brasil” e reúne ativistas de todo o país. Para a abertura e conferência magna, o evento recebeu o diretor-presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA) Richard Parker na noite desta quinta-feira (26).
Durante sua palestra, Richard ressaltou a importância do papel desempenhado pelo Fórum durante as duas últimas décadas. Ele relembrou as tentativas das organizações da sociedade civil se firmarem, mas não conseguiram e tiveram seus trabalhos interrompidos por diferentes questões. “Já o Fórum tem sido o grande sucesso principalmente no trabalho de criar articulações, acompanhar e agendar as demandas que envolvem o tema HIV/aids. Esses 20 anos são, portanto, um exemplo de ativismo que não perdeu sua raiz˜.
O presidente do Foaesp, Rodrigo Pimentel, explica que a proposta desta conferência magna é nortear e provocar discussões que pautarão os outros dias de conferência. “É por isso que o tema do nosso encontro é a prevenção. Nós avançamos ainda muito pouco em relação ao que gostaríamos de ter feito e vamos discutir justamente aquilo que já conquistamos e quais os desafios que estão por vir˜, diz.
Em sua palestra Richard ressaltou que ˜hoje, mais do que nunca, precisamos de uma resposta ativista frente a epidemia˜. e mostrou-se preocupado com o aumento das infeções em populações chaves aliado a alguns fatores que poderiam agravar essa situação como o atual contexto político conservador, a fragilidade do SUS e de sistemas logísticos dos medicamentos, além da crise no setor de ONGs/aids devido à falta de apoio financeiro. “A crise levanta sérias dúvidas sobre a sustentabilidade do enfrentamento da epidemia no Brasil”, justifica.
Para Richard, esses sinais mostram que, desde o início de 2010, “temos testemunhado a desintegração do que foi chamado por muitos, um ‘programa modelo’”. A conscientização da importância política é primordial para nortear medidas que podem ser tomadas para impedir o avanço da epidemia. Por isso, “o ativismo, advocacy e pressão política são indispensáveis˜.
Como possiblidade de solução, Richard coloca que é preciso pensar mais em acesso à prevenção como um direito. “O direito ao tratamento já é uma realidade, mas o direito à prevenção precisa ser conquistado”. Durante sua fala, ele também criticou o atual modelo das campanhas preventivas que, segundo ele, perderam o eixo com a chegada das autoridades sanitárias e especialistas científicos “porque eles presumiram ser os donos da verdade e passaram a imagem de que, se as pessoas fizessem o que eles dizem, tudo iria bem, o que acabou criando estratégias que colocaram os soropositivos de forma discriminatória˜.
O diretor da ABIA deixou claro que é necessário retomar o que foi aprendido durante os últimos 30 anos no que se refere à luta política, mobilização comunitária e a incansável defesa dos direitos humanos, “lembrando sempre de ouvir as pessoas que estão inseridas nessas comunidades, porque são os únicos que podem dizer, de fato, o que é melhor para eles”.