As respostas biomédicas podem, de fato, substituir a resposta social? Como enfrentar o estigma, o preconceito e a discriminação ao HIV e à AIDS no século XXI? Estamos realmente próximos ao fim da AIDS? Para que serve a testagem no Brasil? Como garantir o acesso universal aos medicamentos?
Estas e outras perguntas fizeram parte do Seminário Desafios para a Prevenção no Séc. XXI: Sexo, pílulas, camisinha e prazer o que tudo isso tem a ver com a prevenção da AIDS?, organizado pela ABIA e pelo Grupo de Pesquisa em Saúde, Sociedade e Cultura (GRUPESSC\UFPB), que aconteceu em João Pessoa (PB). O evento teve transmissão online pela TV CCHLA\UFPB.
Realizado um dia antes da abertura do 10º Congresso de HIV e AIDS, no Centro de Convenções em João Pessoa, o encontro teve como objetivo fazer uma análise crítica sobre o cenário da AIDS hoje no país e no mundo e provocar uma reflexão sobre o enfrentamento aos fatores estruturais que impedem o avanço da resposta à epidemia.
O seminário começou com a palestra “Antirretrovirais: início de tratamento para benefício clínico e de prevenção” de Jorge Beloqui (GIV\ABIA\RNP+\IME\USP). Em seguida, Marcela Vieira e Felipe Carvalho, coordenadores do GTPI\ABIA, trataram sobre “Medicamentos, Patentes e Prevenção”. A principal preocupação do GTPI\ABIA e que deve orientar as ações da sociedade civil, de acordo com Vieira, é garantir o compromisso de que ninguém será deixado para trás no acesso a medicamentos. “Queremos nada menos do que o acesso universal. Estamos em luta contra as estratégias que estão sendo criadas pelas grandes empresas para pedidos de patentes”, afirmou.
Amor e tesão
À tarde, convidados e público debateram sobre os “Caminhos e Descaminhos para a Prevenção da AIDS no Brasil”. Especialistas como Dulce Ferra (FIOCRUZ\NEPAIDS\USP), Guilherme do Vale (UFRN), Luziana Silva (GRUPESSC\UFPB) e Veriano Terto Jr (ABIA) refletiram sobre temas desafiantes, tais como: de que maneira se discute direitos sexuais? Como o jovem pode assumir esse protagonismo? E de que maneira a sociedade pode agir diferente? A moderação da mesa foi feita pelo diretor presidente da ABIA, Richard Parker. Luziana Silva (UFPB), por exemplo, tomando como ponto de reflexão a sua tese de doutorado, destacou que “embora a espontaneidade do desejo apareça nas narrativas de prevenção como um aspecto cognitivo a ser racionalizado em práticas protetoras, verificou-se em alguns relatos um descompasso entre as tentativas de normatização da vida sexual e as práticas.”
Um dos momentos de destaque foi a exibição comemorativa do documentário Cabaret Prevenção, dirigido por Vagner de Almeida, que está completando 20 anos em 2015. O filme, que aborda sobre o amor e o tesão como temas centrais para os homens que fazem sexo com homens (HSH), continua atual na reflexão sobre o impacto da epidemia. “O documentário faz um desafio ao modelo de prevenção que está sendo apresentado hoje. Se não é mais só a camisinha, como as outras tecnologias, como PrEp e PEP, vão dialogar com esses temas: amor e tesão?”, questionou Felipe Rios (UFPE). Almeida também convidou a plateia a refletir: “Fica a pergunta sobre qual filme eu faria hoje diante deste cenário da epidemia?”, afirmou.
Entre as conclusões dos participantes, está o reconhecimento de que faltam espaços de reflexão onde pessoas possam expressar suas histórias e de que são essas experiências que precisam voltar ao centro da epidemia. Para Parker, a qualidade do debate demonstrou que outro caminho é possível. “Queríamos trazer outra visão ao debate sobre a epidemia do HIV, pois nos pareceu que as perspectivas que foram discutidas no nosso seminário não estarão contempladas no Congresso do Ministério da Saúde”, sintetizou Parker.