O Observatório de Sexualidade e Política (SPW, sigla em inglês), secretariado da ABIA, lançou a versão em português da publicação “Políticas antigênero na América Latina”, que traz estudos de caso de nove países da região, da Organização dos Estados Americanos (OEA), e oferece uma genealogia sobre a origem do neoconservadorismo religioso e um comentário panorâmico sobre a região.
Para celebrar o lançamento da publicação, o SPW promoveu o debate “Neoconservadorismo e políticas antigênero na América Latina: Olhares Brasileiros”, com participação de especialistas no tema. O evento, disponível no Youtube do SPW, discorreu sobre o contexto brasileiro e os possíveis impactos da publicação – por exemplo, para a imprensa e para os movimentos de resistências às forças antigênero.
A conversa contou com a participação dos fundadores e coordenadores do SPW: Richard Parker e Sônia Corrêa. Na sua fala, Parker celebrou a abordagem analítica e as inovações implementadas pelo SPW para divulgação de análises como este estudo. Para ele, um dos achados confirmados pela publicação é que a ideologia de gênero tem sido difundida na região desde 1995. “Isso foi claro quando a delegação do Paraguai, seguindo a do Vaticano, se opôs ao termo gênero na 4º Conferência Mundial sobre a Mulher em Beijing. Ou seja, há uma longa história deste movimento de oposição ao gênero, que a maioria de nós talvez ainda não estivesse atenta ao fenômeno”, lembrou.
Já Sônia Corrêa chamou a atenção para as características mais recentes do fenômeno. “No Brasil, desde janeiro de 2019, a ideologia antigênero, instalou-se brutal e fragorosamente no poder do Estado. O mesmo está acontecendo, ainda que com menos intensidade, no Uruguai. Essa drástica passagem é relevante, pois são ainda poucos os países do mundo em que ciclones das politicas antigênero estão hoje convertidos em política de estado”, lembrou.
O bate-papo contou ainda com a presença de outros membros da equipe ABIA, como o coordenador de projetos, Vagner de Almeida. Além do lançamento da publicação, Sônia Corrêa representou o SPW no lançamento da versão brasileira do clássico feminista Our bodies, ourselves, traduzido como “Nossos corpos por nós mesmas”. O evento marcou uma celebração entre diferentes gerações de feministas na luta pelos direitos sexuais e reprodutivos. O debate na íntegra está disponível neste link.