Analisar as ambiguidades e tensões da função da camisinha no debate da prevenção foi o objetivo da palestra do vice-presidente da ABIA, Veriano Terto Jr. A apresentação fez parte da mesa redonda “Prevenção do HIV, IST e Hepatites Virais na População de Gays e outros HSH: como repensar o preservativo masculino, o homoerotismo e as abordagens de prevenção combinada”, durante o 11º Congresso de HIV\AIDS e 4º Congresso de Hepatites Virais, em Curitiba (PR).
“Desde a década de 1980, as representações e ambiguidades seguiram mudando. Por exemplo, a camisinha já foi vista pela população gay nesse período como um instrumento de cerceamento das liberdades sexuais conquistadas, ao mesmo tempo que significou uma liberdade porque permitiu manter essas práticas e negar a própria Aids”, explicou Terto Jr., destacando ainda a mudança da ideia do preservativo que simbolizava o contraceptivo à geração de uma nova vida para ser salvador de vidas.
Nos anos 1990, Terto Jr. lembrou que a camisinha era uma parte da ideia de sexo seguro, porém, com a cooptação dos profissionais de saúde e de técnicos ao discurso do sexo seguro, a camisinha foi ganhando cada vez mais relevância até se estabelecer como sexo mais seguro”.
Sobre os anos 2000, Terto Jr. apontou o predomínio de um discurso conservador no âmbito social e cultural, momento em que a camisinha é reconhecida como a única forma de sexo seguro possível. “É o inicio da ditadura da camisinha, do ‘use sempre camisinha’ em todas as relações sexuais. O discurso prescritivo passa a dominar. E normativo porque se você não usa é irresponsável”.
Paradoxos do acesso e da sexualidade
Entre outros paradoxos, Terto Jr. destacou o do acesso no momento em que pesquisas começaram a registrar um “cansaço” no uso do preservativo. “Na década de 2010, enquanto a população LGBT manifestava uma fadiga, a camisinha sequer havia chegado em escolas, presídios e uma série de lugares”, comentou.
Outro destaque apresentado foi a oscilação do papel da sexualidade nas discussões e campanhas. “A partir do ano 2000, a sexualidade que sempre esteve presente na prevenção nas décadas de 1980 e 1990 começa a desaparecer. Hoje, no final da década de 2010, parece que estamos nessa perspectiva de retomada, a exemplo do clipe da Pablo Vittar”, explicou o vice-presidente da ABIA, a respeito do aparecimento da camisinha numa situação em que a artista trans e o parceiro interagem em um carro numa situação preliminar de relação sexual.
Por Yusseff Abrahim GTPI\ABIA